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RESUMO A PSICANÁLISE E A PSICOTERAPIA

DISCIPLINA: A PSICANÁLISE E A PSICOTERAPIA

RESUMO

CONCEITO GERAL
Na contemporaneidade, as dificuldades diárias submetem o ser humano a sofrimentos de toda espécie. Embora ele possua uma considerável bagagem de conhecimentos, ainda permanece vulnerável quanto a questões que o afligem e abalam sua saúde com desequilíbrios mentais que, seguramente, podem afetar a saúde física. Estando doente, o homem tateia procurando ajuda na medicina, equivocado pela ilusão de que pílulas solucionarão problemas de natureza mental e psíquica.
A volta à normalidade é efetivada com o tratamento integral (mente e corpo) através de um médico e um psicoterapeuta e/ou psicanalista, pois doenças psicossomáticas são alterações funcionais psíquicas ou imaginárias. A busca por esse auxílio requer desapego a preconceitos enraizados em nossa cultura, os quais levam as pessoas a esquivare-se do tratamento, buscarem status social ou a fórmula mágica para seus problemas.
Esse tratamento pode ocorrer através da psicoterapia tradicional (análise) ou da psicoterapia breve. Ambas as modalidades diferem pelo período de tempo do tratamento, o que tem levado a psicoterapia breve a ganhar mais aceitação devido a rapidez, acessibilidade e ao alívio a curto prazo para dificuldades específicas.
Ela possui dois tipos: a de orientação psicanalítica e a de orientação cognitiva ou comportamental.
A relação psicoterapêutica pode ser abordada como um relacionamento de confiança entre psicoterapeuta e cliente, e a Psicanálise como um trabalho de autoconhecimento em um nível mais profundo. Ambas devem ser buscadas sempre que necessário para resolver os problemas em suas causas e, assim, reencontrar o equilíbrio físico-emocional.

1 – HISTÓRICO DA PSICANÁLISE
Sigmund Freud foi um médico austríaco e fundador da Psicanálise. Formado em Medicina, especializou-se em Neurologia com Dr. Charcot. Este acreditava que doenças mentais tinham origem em fatos da infância, e utilizava a hipnose para que seus pacientes narrassem esses fatos.
Freud associou-se ao Dr. Breuer e ambos utilizavam o método de Charcot.
Perceberam que os relatos recolhidos traziam dois efeitos: um é a “catarse”, onde o paciente fornecia dados que auxiliavam o médico no diagnóstico da doença e ao mesmo tempo o aliviavam, libertando-o de alguns sintomas; o outro efeito é que essa cura era transitória, pois logo apareciam outros sintomas de perturbação.
Ainda durante o processo, perceberam uma dinâmica a que deram o nome de “transferêcia afetiva”.
Método Psicanalítico Freud definiu a Psicanálise de algumas formas, dentre elas “um procedimento que serve para investigar processos anímicos dificilmente acessíveis por outras vias”. Ele a caracteriza em função de uma teoria, um método e uma técnica.
Define-se como teoria o sistema conceitual dentro do qual é pensado o objeto de que a teoria pretende dar conta. Ela se constrói a partir dos fenômenos (sintomas, sonhos e atos falhos), tentando revelar o sistema que os produz. Seu conceito central reside na teoria do inconsciente e de seu funcionamento.
O método, por sua vez, baseia-se na associação livre e possibilita a passagem de uma teoria geral do sujeito para o estudo de um sujeito singular e das determinações que o constituem. Freud aplicou este método aos sonhos e isso lhe permitiu tomar ciência sobre o conteúdo latente, que agregado ao conteúdo manifesto, possibilitou a descoberta das leis que regem a elaboração onírica.
Portanto, este método consiste numa forma de estruturação do material sobre a base do reconhecimento dos mecanismos psíquicos.

A matéria prima com que se trabalha em análise são as palavras, atos e
produções imaginárias do analisando. É o “o que”. A técnica do analista é o “como”, são os instrumentos com os quais ele trabalhará sobre a matéria prima.
Alguns destes instrumentos são as interpretações ou as construções, assim como os esclarecimentos ou as confrontações.
A interpretação acima citada, por exemplo, tem por meta descobrir o conteúdo latente encoberto pelo conteúdo manifesto, assinalando a modalidade do conflito defensivo e apontando para a análise das ansiedades e desejos através das fantasias inconscientes que as encarnam. O analista interpreta em função de uma tripla determinação: o que consegue escutar via atenção flutuante, o que incorporou do sistema conceitual e pela contratransferência. Percebemos, assim, que fazer Psicanálise é a articulação de todos esses elementos, o que tornará possível o processo analítico. Outro instrumento técnico é a castração, com a qual se tenta descobrir situações históricas do paciente que possam estar determinando seu padecer atual.

Portanto, é a relação entre objeto teórico (teoria do inconsciente), com sua objetivação como método (associação livre, atenção flutuante) e determinação de uma técnica, o que permite transformações e articulações sobre a realidade. O ideal seria que, em sua aplicação técnica, a Psicanálise seja uma prática de sua teoria.

Freud começou assim a trabalhar sozinho criando um método chamado
“Psico-análise” ou “Análise da mente” (hoje chamado de “Psicanálise”) composto por três técnicas: técnica da associação livre, da análise dos sonhos e dos atos falhos. O texto que se segue aponta a interdependência entre teoria, método e técnica, onde cada fator possui sua importância individual e intrínseca, mas que isolado perde sua eficácia. Por exemplo, vemos isso em “uma teoria que não tenha método e técnica não tem campo de confrontação”, e “uma técnica que não esteja baseada em um conhecimento teórico daquilo que pretende transformar gera uma prática cega que se esteriliza”.

A partir desta impossibilidade de separação dos preceitos técnicos do sistema conceitual do qual a técnica é efeito, propõe-se o estudo dos fundamentos da psicoterapia psicanalítica. Habitualmente costuma-se ensinar teoria psicanalítica de acordo com dois modelos: modelo hipotético-dedutivo (apresenta a teoria como um todo acabado, coerente) e o método histórico-crítico (tenta-se reconstruir o momento de gênese de cada conceito e seu posterior processamento intrateórico).
Para Freud, a Psicanálise é uma técnica, um método terapêutico e um conjunto de concepções psicológicas que se convertem numa cosmovisão.

2 – ESCOLA PSICANALÍTICA
Aqui temos Freud trabalhando então sozinho durante doze anos, sendo o único médico que usou a Picanálise para tratamento de distúrbios nervosos.
Julgou-se capaz de publicá-la como uma doutrina psicológica completamente nova, explicando o funcionamento da mente humana e o desenvolvimento da personalidade.
A palavra psicanálise tem triplo sentido: (1) o método criado por Freud,
composto de três técnicas; (2) adoutrina criada por Freud, explicando o
funcionamento de nossa mente e (3) o nome dado ao conjunto dos adeptos do pensamento freudiano.

3 – DOUTRINA FREUDIANA
A libido
É como Freud nomeia o impulso sexual. Ela é um impulso fundamental ou fonte de energia. Ele constatou que a causa da doença mental apresentada pela maioria de seus pacientes era sempre um problema sexual. Observou também as personalidades normais, chegando à conclusão que “o comportamento humano é orientado pelo impulso sexual”.

Elementos da personalidade
Freud divide a personalidade humana em três elementos aos quais dá os nomes de Id (parte irracional e animal, que procura sempre satisfazer a nossa libido); de Ego (parte racional que procura manter o equilíbrio entre as duas forças opostas) e Superego (força que é adquirida lentamente por influência da nossa vida em sociedade: idéias morais, religiosas, regras de conduta, etc).

Níveis de Vida Mental
Nossa vida mental se dá em três níveis: consciente (fenômenos mentais sobre os quais tomamos conhecimento imediato); subconsciente (fenômenos mentais que não estão passando pela mente, mas que o indivíduo possui conhecimento) e inconsciente (fenômenos que se realizam sem que saibamos – estes possuem grande influência na direção do nosso comportamento).

Desenvolvimento da Personalidade
São os diferentes períodos do nosso desenvolvimento emocional até a
adolescência. Em cada um, a libido toma uma direção.
– Período narcisista: a criança dirige sua libido para seu próprio corpo. Ela ama a si mesma e suas reações emocionais dependem de seu bem-estar ou mal-estar. É egocêntrica. Fase autoerótica.

– Período edipiano: nesta fase a criança dirige sua libido para o progenitor do sexo oposto, manifestando hostilidade para com o progenitor do mesmo sexo.
– Período de latência sexual: escola primária, onde a criança adquire
habilidades, valores e papéis culturalmente aceitos. Os impulsos são impedidos de se manifestar e são sublimados.
– Período de puberdade: modificações físicas e libertação emocional dos
progenitores. Ligação afetiva entre jovens do mesmo sexo.
– Período da adolescência: a libido se dirige a um adolescente do sexo oposto.
Essa ligação emocional vai exigir a emancipação do adolescente de seus pais.

Mecanismos de Defesa
São os modos de o ego equilibrar as forças opostas (Id e Superego) em conflito constante. Exemplos:
– Repressão: dinamismo usado para acomodar a oposição entre tendências naturais e nossa consciência moral. Consiste em não admitir a existência do Id.
– Racionalização: inventar pretextos e desculpas para as ações que foram motivadas pelos impulsos do Id.

– Projeção: atribuir aos outros os nossos próprios desejos e impulsos.
– Conversão: conversão dos nossos conflitos em sintomas físicos.
– Sublimação: é a satisfação modificada dos impulsos naturais em atos
socialmente aceitáveis.

4 – PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
A importância atribuída pela Psicanálise à infância das pessoas assim como sua explicação das características emocionais das diferentes fases da vida humana tiveram muita influência na Educação. Pais e professores, apoiados na Psicanálise, ganharam maior compreensão, capacidade de previsão e controle do comportamento de seus filhos e alunos.

5 – ESTADO ATUAL DA PSICANÁLISE
A doutrina freudiana possui imensa repercussão nos campos do saber
humano e continua sendo estudada. Na Psicologia temos uma extrema
diversidade de tendências, pontos de vista os quais vamos sintetizar a seguir.
Esta síntese pode ser dividida em quatro etapas: confissão, esclarecimento, educação e transformação.
O ato de confessar-se está na essência de qualquer tratamento analítico da alma. É um ato que pressupõe um segredo ou afeto escondido, ou recalcado. A invenção do pecado favoreceu o surgimento da coisa recalcada, do segredo, o qual possui o efeito de um veneno (psíquico) que torna o portador deste segredo um estranho à sociedade. Ou seja: ao portar um segredo, o indivíduo é diferente dos demais. Em pequenas doses, o segredo é uma condição prévia indispensável a qualquer diferenciação individual pois, possuindo-o, o indivíduo protege-se contra sua absorção no inconsciente da coletividade, visto que percebe nela um perigo mortal à sua alma. Estão a serviço do instinto de diferenciação os antigos ritos de iniciação e os próprios sacramentos cristãos.
Um segredo partilhado com diversas pessoas (rituais, sacramentos, pactos em sociedade ou grupos) é construtivo, mas o segredo estritamente pessoal é oposto:

tem o mesmo efeito da culpa, segregando seu infeliz portador do convívio com os demais seres humanos. Esse isolamento deve-se ao fato de que, ao guardarmos um segredo ou emoções reprimidas, trapaceamos nossos semelhantes, a Humanidade, o senso comunitário, que por sua vez nos leva a mal quando ocultamos nossas emoções. Pelos nossos segredos, nos separamos dos demais.
Outra forma de ocultar é a contenção. Ela pode ser uma virtude (como no contexto de uma aliança secreta de uma iniciativa partilhada com outros) assim como pode ser lesiva (quando ela é exclusivamente pessoal). O afeto contido do mesmo modo que o segredo inconsciente atua como fator de isolamento e perturbação, e provoca sentimento de culpa. Segredo e contenção (quando de ordem exclusivamente pessoal) são danos aos quais a natureza reage finalmente por meio da doença. Se praticados juntamente com outros, a natureza se dá por
satisfeita e podem até ser benéficas virtudes. É como se a humanidade tivesse um direito inexpugnável sobre a parte obscura, imperfeita, boba e culposa da pessoa humana, coisas essas que costumam ser mantidas em segredo por razões de autodefesa.

Pela confissão, lanço-me novamente nos braços da humanidade, livre do peso do exílio moral. O método catártico (que consiste em transferir o doente ao mais profundo de sua consciência) visa à confissão completa, isto é, não só à constatação intelectual dos fatos da mente, mas também à liberação dos afetos contidos – visa à constatação dos fatos pelo coração.
O segundo estágio é o do esclarecimento. Tornou-se necessário pela catarse mostrar-se por vezes como método ineficaz devido à frequência de pessoas tão fortemente ancoradas no consciente que nada consegue arredá-las daí: são capazes de se oporem a qualquer tentativa de fazer o consciente recuar. Já possuem tanto a confessar que não precisam recorrer ao inconsciente, o que exige do analista uma técnica especial para a aproximação dele.
Noutro caso, a confissão catártica se realiza com sucesso mas o paciente não desliga-se do médico pela confissão. Este vínculo com o médico (que se processa fora da consciência) corresponde à relação pai-filho do paciente, que inconscientemente estabelece uma relação infantil com o médico. Aqui a imagem mnêmica ideo-afetiva do pai do paciente é transferida ao médico (transferência).

O paciente quer restabelecer a situação familiar infantil, já que depois de tanto tempo o pai desaparecido foi finalmente “encontrado”. Essa dependência é causada pela existência de fantasias inconscientes as quais possuem um caráter incestuoso.
Há ainda aqui o caso onde essa dependência não se produz, ficando o paciente ligado ao inconsciente e a si mesmo (neste caso, a imagem dos pais não é transferida ao médico, mas permanece na forma de representações da fantasia, que exerce o mesmo poder de atração e produz a mesma dependência que a transferência).
A tenacidade desta dependência a torna inacessível à correção consciente.
Temos aí, então, a fixação tanto neste caso quanto no das pessoas ligadas ao consciente. É na fixação que a necessidade do esclarecimento começa. Enquanto o método catártico, em sua essência, devolve ao eu conteúdos que normalmente deveriam fazer parte do consciente, o esclarecimento da transferência faz com que venham à tona conteúdos que jamais teriam tido condições de se tornarem conscientes. O resultado do método do esclarecimento é a elaboração mais
minuciosa do lado sombrio do homem.

Diante do fenômeno da transferência, a simples confissão não tem efeito. Isto motivou Freud a elaborar o método “interpretativo”, pois a relação de transferência exige esclarecimento. Aquilo que o paciente transfere para o médico tem que ser interpretado, isto é, deve ser esclarecido. Ele submete a uma análise interpretativa todos os fragmentos disponíveis da fantasia do paciente. As produções desse tipo mais importantes e mais fáceis de obter são os sonhos. Ao
explorar essa área quanto ao seu conteúdo de desejos, Freud descobriu os conteúdos incestuosos. Este método interpretativo é uma explicação
retrospectiva, chamada “redutiva”. Através dele, Freud comprovou que a natureza humana também tem um lado escuro: até nossas idéias mais puras e santas repousam sobre bases escuras e profundas.
Ao reconhecer a fixação, o paciente rebaixa sua posição de autoridade a qual percebe então como infantil e inútil. Ele reconhecerá que a necessidade de fazer exigências aos outros é produto de um comodismo infantil e deve ser substituída por uma maior responsabilidade pessoal. Adaptar-se normalmente e ter paciência com a própria incapacidade são ideias morais que lhe servirão como norte daqui adiante. Entramos então na terceira etapa: a educação para o ser social.

O insight pode falhar em pessoas de parca fantasia moral ou naquelas que continuam duvidando da interpretação que lhes parece evidente. A elucidação sobre a confissão tem sem dúvida um alcance maior do que a simples confissão não interpretada porque ao menos forma o espírito e talvez desperte forças adormecidas, que poderão intervir favoravelmente em seu desenvolvimento.
O princípio do prazer e sua satisfação é unilateral e, portanto, insuficiente:
embora todos tenham esse aspecto, nem sempre ele predomina e, por isso, nem todas as pessoas podem ser interpretadas por esse ângulo. As pessoas sem dificuldades na área do ajustamento social e da posição social, podem ser analisadas pelo prisma do prazer com maior probabilidade de acerto do que aquelas que se encontram num estágio insuficiente de adaptação, isto é, aquelas que devido a sua inferioridade social tem necessidade de prestígio e poder.

Adler preencheu esta lacuna então existente no sistema de elucidação
apresentando provas de que casos de neurose podem ser explicados pelo instinto de poder ao invés do princípio do prazer. Na sua interpretação, Adler pretende mostrar ao paciente como ele arranja sintomas para conseguir prestígio fictício, como explora sua neurose e como sua transferência e demais fixações estão a serviço da sua vontade de poder (nesse sentido, representam um másculo protesto contra opressões imaginárias). Adler tenta tornar o paciente uma pessoa normalmente ajustada, mediante todos os recursos da educação. Os propósitos educativos da orientação Adleriana correspondem à necessidade do doente encaminhar-se, agora que conseguiu discernimento para uma vida normal.

Este trabalho é, portanto, realizado através de uma educação apropriada. O paciente tem que ser literalmente puxado para outros caminhos, e isso apenas se consegue através da vontade de se educar.
A transformação, enquanto quarto estágio, preenche uma lacuna deixada pelas etapas anteriores. Ela satisfaz uma necessidade a mais transcendendo tudo o que foi feito até então. Aqui é fundamental ver o que passou despercebido nas necessidades da alma até então e perceber o que mais ela poderia exigir além de tomar-se um ser social normalmente ajustado. Ser normal é a coisa mais útil e conveniente que se possa perceber. Com vistas nisso, é dito que existem dois
tipos de neuróticos: uns que adoecem porque são apenas normais (a idéia de educá-los para a normalidade representa para eles o maior pesadelo, pois sua necessidade mais profunda é poder levar uma vida extranormal) e outros que estão doentes porque não conseguem tornar-se normais. Diante destes casos, o melhor que o médico pode fazer é renunciar a qualquer opinião pré-concebida e usá-las como hipóteses para um possível esclarecimento do caso individual do
paciente. Trata-se de mostrar ao doente como é que o médico reage ao seu caso particular.

Como se espera de todo tratamento psíquico efetivo, o médico exerce uma influência sobre o paciente; influir é sinônimo de ser afetado. Inconscientemente, o paciente vai exercer sua influência sobre o médico e provocar mudanças em seu inconsciente. Um dos fenômenos mais conhecidos desse tipo é a contratransferência provocada pela transferência. Portanto, na relação médico- paciente existem fatores irracionais que produzem transformações mútuas. Ao final, será decisiva a personalidade mais estável e mais forte.

A etapa da transformação baseia-se nestes fatos que, para serem reconhecidos sem equívoco, tiveram que ser objeto de abrangentes experiências práticas. Tanto quanto o paciente, o terapeuta é parte integrante do processo psíquico do tratamento, razão por que também está exposto às influências transformadoras.

Na medida que o psicoterapeuta se fecha a essa influência, ele também perde sua influência sobre o paciente. Na medida que essa influência é apenas no inconsciente, abre-se uma lacuna em seu campo de consciência que o impedirá de ver o paciente corretamente. Em ambos os casos, o resultado do tratamento está comprometido. Desta forma, percebemos que o psicoterapeuta precisa ser a pessoa com a qual ele quer influir sobre seu paciente. A quarta etapa da psicologia analítica exige que se reaplique no próprio psicoterapeuta o sistema em
que se acredita. Caso haja resistências, ele tem de superá-las dentro dele mesmo.

A exigência na fase da transformação é bastante impopular porque parece pouco prática, porque há um desagradável preconceito pesando sobre o fato de ocupar-se consigo mesmo e também porque custa satisfazer em si próprio todas as expectativas que eventualmente têm em relação ao paciente. Porém, uma vez cumprido tais investigações, vai fazer em si a descoberta inquietadora de uma inferioridade que o nivelará perigosamente ao nível de seus pacientes. A psicologia analítica atual dirige-se para os fatores irracionais da personalidade
humana, colocando os do psicoterapeuta em primeiro plano como causador ou inibidor da cura e exigindo a sua transformação, ou seja, auto-educação do educador.
Portanto, o que acontecia com o paciente tem que acontecer com o médico para que a sua personalidade não retroaja desfavoravelmente sobre o paciente. O terapeuta não deve tentar esquivar-se das próprias dificuldades como se ele mesmo não as tivesse apenas porque está tratando das dificuldades de outrem. O que no passado era método de terapia converte-se aqui em método de auto- educação. Não mais o diploma mas sim a qualidade humana é atualmente significativa justamente porque coloca o equipamento da arte psicoterapêutica a
serviço da auto-educação e do auto-aperfeiçoamento.

6 – PSICOTERAPIA BREVE
A psicoterapia breve, por ser mais rápida e acessível do que a psicanálise, vem tornando-se mais popular ao trazer alívio em curto prazo para dificuldades específicas. Alguns psicanalistas a consideram apenas uma promessa – nem sempre cumprida – de nos livrar mais rapidamente de problemas. Enquanto a psicanálise modifica a relação da pessoa com o mundo, a psicoterapia breve muda sua relação com o mal estar. Há basicamente duas linhas: a de orientação psicanalítica e a cognitiva ou comportamental. Adiferença está na forma como o
psicoterapeuta interpreta os conflitos e nas tarefas que prescreve. Ao contrário da linha psicanalítica, a cognitiva recomenda lições de casa.
A seguir, são apresentadas situações em que a psicoterapia breve pode ser usada com bons resultados. São elas a crise familiar, distúrios obsessivo- compulsivos, fobias, bulimia, crise no casamento, crise de identidade e crise no trabalho.

7 – PSICOTERAPIA E A VISÃO DO MUNDO
A psicoterapia surgiu de métodos nascidos da prática e da improvisação, como auxiliares na abordagem de conceitos físicos e fisiológicos. Aos poucos, compreeudeu que deveria partir principalmente dos pressupostos psíquicos além dos fisiológicos: viu-se obrigada a fazer questionamentos de ordem psicológica.
Desta forma, percebeu-se que era preciso constatar que não se pode tratar da psique sem mexer no todo, no mais profundo, pois quando mais “psíquico” é um estado, mais complexo ele é e mais relacionado com o todo está.
Aqui, o cosmo psíquico é dividido em pólos. O fator fisiológico representa um deles. Diz-se que as formas psíquicas elementares estão intimamente ligadas aos processos fisiológicos do corpo. Sintomas neuróticos produzidos por distúrbios a partir dos processos intintivos e afetivos possuem base fisiológica. Caso um destes distúrbios consista num recalque, o fator repressor pertence a uma ordem
psíquica “superior” muitas vezes desvinculada da fisiologia (eis aqui outro pólo da psique), condição esta altamente complexa formada por representações racionais ou éticas, estéticas, religiosas, ou ligadas à tradição. É sempre de natureza filosófico-religiosa, uma realidade totalmente primitiva em si, razão por que é no primitivo que pode ser observada em sua maior florescência. Como dominante
suprema e mais complexa das estruturas psíquicas, a filosofia de vida do homem forma o pólo oposto da psique fisiologicamente condicionada. É esse pólo oposto que decide o destino da psique.
A estrutura da psique é contraditória o que levou a psicoterapia, em suas primeiras incursões, a se confrontar com a problemática dos opostos. Não há constatação psicológica nessa estrutura que não nos obrigue imediatamente a fazer também a afirmação de seu oposto. Essa problemática é um lugar ideal e apropriado para se discutir as teorias mais contraditórias e os preconceitos baseados na visão do mundo parcial ou totalmente irrealizados. Aqui aparecem
os mais inimagináveis conflitos de ordem moral, ética, filosófica ou religiosa.

A psicoterapia se propõe a discutir estas idéias que embasam a visão de mundo, ainda que nem todo paciente avance até o fundo.
É comum os distúrbios dos processos afetivos dos pacientes despertarem no terapeuta os fatores filosófico-religiosos correspondentes. É doloroso e epugnante ao médico tomar consciência de tais conteúdos primitivos. Por isso é compreensível que ele prefira apoiar-se nos subsídios externos que a filosofia e a
religião lhe fornecem à consciência. Com isso, ou o paciente pode incorporar uma estrutura protetora (clãs totêmicos ou comunidades de culto e confissões religiosas, por exemplo), ou sua natureza rebela-se contra essas soluções coletivas. Caso este seja o caso, médico e paciente devem procurar idéias filosófico-religiosas correspondentes aos estados emocionais do paciente. Estes apresentam-se em forma de arquétipos recém-brotados do mesmo solo materno em que outrora se formaram – sem exceção – todos os sistemas filosófico-
religiosos.

O instinto traz consigo arquetípicos de caráter espiritual e se apresenta
sempre com uma espécie de visão de mundo. Caso não pensarmos nele
livremente, surgirá um pensamento compulsório, pois os dois apoios da alma, o fisiológico e o espiritual, estão ligados um ao outro. A ligação do espírito com a esfera instintual é cheia de conflitos e significa sofrimento. E o objetivo mais nobre da psicoterapia é possibilitar que o paciente adquira firmeza e paciência filosóficas para suportar esse sofrimento. A doutrina cristã do pecado original, do sentido e valor do sofrimento e a crença na imortalidade são doutrinas vistas
como concepções importantes para a psicologia, uma vez que tratam-se muito mais de experiências emocionais. O entregar-se sem reservas do paciente é a única esperança de experimentar essas emoções. Essa entrega exige algo de excepcional do ser humano comum, o que é representado pela irrupção de conteúdos arquetípicos. Nesse ponto, somos obrigados a recorrer ao material da cosmovisão pré-cristã e extracristã.

7.1 Com o que trabalha o psicoterapeuta?
Os seres humanos em geral possuem um problema em comum: a infelicidade.
É percebida de forma difusa ou clara e constante ou intensa diante de datas ou acontecimentos. Pode ser sentida ou manifestada somaticamente como angústia ou tristeza. Distúrbios surgem quando elevada a estado crônico por período prolongado de tensão, e provoca quatro tipos de problemas, todos de base emocional. São eles orgânicos, afetivos, intelectuais e interpessoais.

Os problemas orgânicos manifestam-se através de doenças fisiológicas,
algumas conhecidas como moléstias psicossomáticas e outras com status de doença de fundo emocional (causada pela participação das emoções no surgimento ou estabelecimento das doenças). Neste ponto do texto, é explicado como as emoções percorrem o organismo sob forma de energia através de dois troncos nervosos com funções opostas e complementares (tronco simpático e tronco parassimpático).

As emoções básicas são três: ira (raiva), amor (prazer) e medo (ansiedade).
Cada uma delas decorre de um fluxo de energia por alguma parte do organismo.
Quando a imposição de obrigações colide com estas emoções, há um
impedimento no fluxo livre de energia pelo organismo obrigando este fluxo a se dar de maneira determinada. Assim, a energia não segue os caminhos determinados pelo próprio organismo e fica bloqueada, formando zonas de contração muscular crônica e desequilíbrio energético em vários órgãos do corpo e nas suas diferentes funções. Eis aí a origem das chamadas doenças psicossomáticas: o sistema neuromuscular e os órgãos sendo afetados pelo impedimento do livre fluxo energético.
O sistema límbico é a sede cerebral de onde se originam as emoções e está ligado às funções controladoras da produção e distribuição de hormônios que são substâncias químicas produzidas por glândulas distribuídas por vários locais do organismo. Estes hormônios são lançados na corrente sanguínea agindo como
verdadeiros mensageiros de ordens (“trabalhe menos ou mais, etc”). Experiências de laboratório demonstram a ligação entre estados de ansiedade ou raiva e a liberação maior ou menor de certos hormônios, pois alterações na esfera emocional refletem-se nos mecanismos de controle das atividades hormonais.
Assim, terapias iniciadas com queixas de natureza afetiva eliminam problemas orgânicos.
Sobre problemas afetivos, entendemos “afeto” como manifestação de emoção provocada pelo ambiente, e seus problemas são relativos à sua qualidade e quantidade. Na esfera afetiva, temos os distúrbios afetivos como aquilo que altera a capacidade do indivíduo de vivenciar adequadamente suas emoções.
Geralmente, toda e qualquer manifestação de descontrole emocional é um sintoma de desequilíbrio emocional. E quando esse descontrole ocorre, fica claro aos que convivem com o indivíduo e, possivelmente, a ele próprio.
Os problemas intelectuais se manifestam através de alterações de algumas das funções racionais conscientes básicas de adaptação da pessoa à vida. Estas funções são a percepção, atenção, memória, pensamento e exploração (encarregadas de coletar dados e informações sobre o mundo e sobre a pessoa deste mundo) e execução, controle e coordenação da ação (reunir os dados obtidos, classificá-los em diferentes categorias, analisar o resultado dos dados
disponíveis, verificar alternativas e tomar decisões). Os distúrbios podem se manifestar de diferentes formas e intensidades: incapacidade de entender um assunto, dificuldade de desempenho em alguma atividade e lacunas de memória.
Os problemas impessoais acontecem por decorrência de combinações
diferentes de problemas afetivos e intelectuais. Os sintomas manifestam-se como dificuldades de relacionamento com outras pessoas, excessiva timidez, falta de afirmatividade no desempenho de atividades profissionais e sociais, agressão indiscriminada e aparentemente sem motivo, falta de percepção dos seus próprios
limites nas situações de convívio, e manias de perseguição ou extrema
sensibilidade a críticas. A maior parte das queixas dos pacientes são uma composição de problemas de todas estas áreas básicas de conflitos. Isso aponta para o fato de que todos os problemas humanos estão interligados, passando-se todos no mesmo organismo.

Como superar minhas frustrações?
Entendemos a frustração como a não-satisfação de um desejo ou impulso. Há uma queixa comum nos consultórios por parte dos pacientes sobre como gostariam de se tornar mais capazes de superar suas frustrações, embora saibam que a ninguém é dado o privilégio de satisfazer-se sempre e de forma absoluta.
A sensação de abandono
É queixa comum, pois todos padecem dessa sensação. Também pode se
manifestar de forma disfarçada, na extrema solicitude com os outros mesmo que o prometido seja impossível de se entregar.
Amores dão tristeza

É trazido no texto como uma dificuldade de amar por parte dos pacientes e uma profunda disposição deles em se envolver em casos amorosos fadados ao término e fracasso, e em envolvimentos afetivos e sexuais que desgastam.
Estranhamente, são relacionamentos mantidos até a exaustão. É também recorrente queixas dos pacientes sobre graus de dificuldade na esfera sexual.

Carreira profissional
Neste aspecto, dúvidas são comuns. Confusões sobre os rumos da carreira profissional escondem dúvidas maiores sobre identidade. O choque entre suas características de temperamento / preferências individuais e as imposições do ambiente culminam nessa crise. Às vezes sente que sua carreira não é bem o que queria mas, pela incerteza, segue adiando uma transição.

Energia desperdiçada
O paciente queixa-se pela sensação de estar desperdiçando energia, de não adaptar-se ou se planejar diante dos acontecimentos da vida. Sente-se perdido girando em círculos e sofre acusações por isso.

Auto-estima abalada

Sensação de inadequação social, com baixa auto-estima pelo corpo, auto-julgamento moral e sem características atraentes diante de possíveis parceiros.

Acredita ser indigno por carregar características humanas negativas, e que traz  desgraça aos que o rodeiam.

Consideração pelos outros
Incômodo a partir da sensação de desconfiança generalizada.

Comportamento
agressivo interpretando o gesto alheio como possível forma de agressão. Incapaz
de demonstrar qualidades positivas pela crença de que outros são incapazes de percebê-las.

Para que viver afinal?
Diante de todas essas sensações e crenças – ou parte delas – o sujeito é
tomado por profunda angústia e, então, questiona-se se é válido viver. Não encontra sentido na vida, uma esperança de felicidade, uma possibilidade de readquirir equilíbrio emocional ou um convívio enriquecedor com os outros. Ao questionamento se é válido viver se seguem pensamentos de morte, vícios, drogas, atividades perigosas e sexo como ato mecânico desprovido de amor ou respeito. O trabalho se reduz a atividades desgastantes, a família a pessoas incapazes de compreender e amigos  egoístas. Em caso extremo, há tentativa de
suicídio.
Num dado momento, a psicoterapia entra em sua vida como alternativa por convencimento próprio ou alheio. Diante dela, há reações negativas pois a tradição judaico-cristã impõe uma separação entre corpo (nosso lado animal: emoções, funções fisiológicas, sensações, etc) e mente (o ego, sede de nossa superioridade intelectual). A tendência a voltar-se contra o próprio corpo provém, em nossa cultura, da identificação deste com a natureza animal do homem.
Nascemos como animal e se no processo de nos civilizarmos e adquirir
conhecimentos rejeitamos o aspecto animal de nosso corpo, transformamo-nos num indivíduo desesperado. Isso porque ego e corpo formam uma unidade.
Quando separados, distúrbios afetivos, intelectuais ou emocionais provocam inevitáveis sensações de incômodo, perda de auto-estima e medo de rejeição.
As reações negativas do indivíduo promovem poderosas forças internas de resistência. Essa resistência apresenta-se através de raciocínios como “eu não sou louco”, “existe doença mental?”, “o que direi aos outros?”, “vale a pena gastar com isso?”, “me disseram para ser independente”, “como posso me expor?”, “o terapeuta é melhor do que eu?”.

7.2 Modalidades de psicoterapia
O psicoterapeuta atua de muitas maneiras de acordo com a conveniência da situação do paciente. As modalidades de psicoterapia são individual, socorrista, por hipnose, hipnoídica, existencial, corporal, analítica (esta ramifica-se em Freudiana, Adleriana e Junguiana), de grupo (sexual, familiar, conjugal, de apoio, exploratória e psicanálise), e breve.
O princípio básico da terapia individual é que o paciente reviverá seus
conflitos não resolvidos com a compreensão e estima do psicoterapeuta. Na terapia de grupo, por outro lado, busca-se os mesmos resultados mas partindo da relação entre os vários elementos do grupo terapêutico e entre eles o psicoterapeuta. A crença de que a terapia de grupo aproxima os pacientes de situações reais vivenciadas fora da sessão forma defensores dessa terapia. Como
resultado da terapia individual ou em grupo, espera-se que cada paciente se aperceba de que muitos dos problemas humanos são comuns a todos, e que todos são pessoas aptas a resolver franca e amadurecidamente os problemas que a vida apresenta.

8 – CONCLUSÃO
Psicoterapia e psicanálise não são dois domínios excludentes um do outro. Pelo Estado, a psicanálise é classificada como forma de psicoterapia. Entretanto, o que há de comum entre elas é que ambas admitem a existência de uma realidade psíquica. Essa distinção deve partir do reconhecimento dos efeitos terapêuticos em ambas as experiências, efeitos estes que podem se produzir toda vez que alguém que sofre procura alguém que o acolha.

A fusão entre esses dois termos acontece hoje como uma retomada da antiga identificação da medicina à psicanálise, pois vê o psiquismo como um órgão do corpo, o qual se confundiria com o funcionamento do cérebro. No entanto, a psicanálise não possui como matéria prima o psiquismo e sim o inconsciente – que não é um órgão físico. O psicoterapeuta usa a psicanálise como contraponto (mais curto e humano, menos caro e perigoso), e o psicanalista pressupõe e aceita a demanda terapêutica acolhendo aquele que, por estar sofrendo, pede que isso cesse. O psicanalista sabe que o efeito terapêutico consiste em resolver para o sujeito o intolerável ao que nomeamos como sintoma.
Em suas diferenças, a psicanálise se mantém como dispositivo que orienta sua direção no tratamento, em uma função que Lacan chama de “o desejo do analista”. Na psicoterapia, por sua vez, o desejo do analista é inédito e inumano, que toma forma no sujeito ao final de sua análise pessoal e se caracteriza como um desejo de saber sobre a verdade da castração. De qualquer forma, ambas admitem a existência de uma realidade psíquica.

ALUNO: Patrique B. Bratz
CURSO: Formação em Psicanálise


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