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RESUMO DA DISCIPLINA DE PSICANÁLISE “COMPLEXO DE ÉDIPO”
DISCIPLINA DE DOUTORADO EM PSICANALISE
ALUNO: WILLIAM A. DO NASCIMENTO
RESUMO DA DISCIPLINA DE PSICANÁLISE “COMPLEXO DE ÉDIPO”
1. INTRODUÇÃO
De acordo com as pesquisas e leituras sobre “A disciplina do Complexo de Édipo”, faço teoria destas palavras, que a psicanálise Consiste em descobrir o significado Sigmund Freud observou Complexo de Édipo, através das recordações de neuróticos e das interpretações dos sonhos que a criança, em determinada idade, passa a estar sexualmente interessada, de modo regular, no genitor do sexo oposto ao seu, desenvolvendo-se o sentimento de rivalidade e o desejo de afastar o genitor do mesmo sexo. Freud conclui estar em presença de um fenômeno universal que ocorre entre os três e cinco anos de idade, e acreditou, por algum tempo, que todas as neuroses tinham origens nessa situação, que, de fato, as neuroses não podiam originar-se em experiências ocorridas em período anterior àquele. O mito de herói grego que perpetra o parricídio (assassina o pai) e vive em relações incestuosas com a mãe, crime de tão terríveis consequências que Édipo quis expiá-los provocando a própria cegueira, parecia provar a tese freudiana de que os impulsos incestuosos se encontram presentes em todas as
crianças de modo velado e desfigurado: assim o código secreto do mito (aquilo que lung chamaria o mitologema) corroborava os estudos de Freud que assim escrevia na interpretação dos sonhos: “o destino do rei Édipo comove-nos ainda hoje porque também poderia ter sido o nosso, porque um oráculo fez recair sobre nós, antes do nosso nascimento, a própria maldição que sobre ele tombara”. Talvez estivéssemos todos destinados a dirigir os nossos primeiros impulsos sexuais para a nossa própria mãe, os nossos primeiros impulsos de ódio e resistência para o nosso pai. E os nossos sonhos convencem de que de fato, estávamos. O rei Edipo, que assassina o seu pai Laio e desposa a sua mãe Jocasta, não é outra coisa senão a efetivação de um desejo da nossa infância. Dessa forma, a Metodologia trata-se de uma pesquisa exploratória, baseada na boa literatura específica. Uma revisão bibliográfica, portanto, constituirá o necessário ponto de par tido. Na codificação do conteúdo e em seu aprofundamento será aproveitada a experiência clínico-profissional da autora.
2. CONCEITO GERAL
É conhecida a lenda e o mito de Édipo. Ele é a grande vítima de uma maldição que tinha por objetivo punir Laio, seu pai, Rei
de Tebas. Ele vivera um amor proibido com Cresipo, o qual cometera suicídio, temendo seu pai, o Rei Pélope. Este diante da
morte do filho amaldiçoa Laio e seus descendentes. Laio ouve do Oráculo de Apoio: “Se tiver um filho, será morto por ele e
sua mulher o esposará”. Temendo a maldição, quando Jocasta dá à luz, seu filho é entregue a um servo, para que o mate.
Movido por compaixão, este poupa-lhe a vida e o entrega a um pastor que o leva ao Rei Pólilo, de Corinto, sendo criado por
ele como filho. Anos mais tarde Édipo vem, a saber, que é adotivo e, angustiado, consulta o Oráculo de Apoio, ouvindo dele:
“matarás teu pai e casarás com tua mãe”. Desesperado com esta profecia, Édipo abandona o lar. Na fuga, chega a uma
encruzilhada e, num acidente, discute com o cocheiro. E agredido pelo senhor, reage com grande violência, matando os dois.
Segue seu caminho isto é, o seu destino. Chegando a Tebas, Édipo, para entrar na cidade, tem que decifrar o enigma da
Esfinge, monstro que amedronta e mata as pessoas. As peças de um quebra-cabeça vão se encaixando nesta pesquisa com
o foco na investigação.
3. O QUE É O ÉDIPO FREUDIANO?
Freud faz uma analogia e apresenta a característica do Édipo dizendo que o Édipo é o inocente, vítima da trama do
destino que usa para mostrar a fragilidade humana?
O Édipo representa o ser humano, que para escapar a um destino trágico, vive num equívoco, sem saber de sua
identidade?
Freud quer dizer que cada um de nós é outro Édipo, na busca da verdade de sua própria existência?
Freud não apresenta uma exposição sistemática do Complexo de Édipo, na formulação de sua teoria psicanalítica. Através
da análise de seus pacientes ele primeiro descobre que as fantasias sexuais eram usadas para dissimular a vida sexual da
criança e sua atividade auto erótica. O passo seguinte para a criação do Complexo de Édipo foi a ‘autoanálise de Freud,
quando ele reconheceu em si o conflito de sentimentos gerados pelo amor à mãe e os ciúmes do pai. Em carta a Fliess (15
de outubro de 1897) Freud escreve: “… a lenda grega capta uma compulsão que toda criança reconhece porque sente sua
presença dentro de si mesmo. Cada pessoa na plateia, um dia, em germe ou fantasia, foi exatamente um Édipo como esse, e
cada qual recua, horrorizado, diante da realização do sonho, aqui transposto para a realidade, com toda carga de
recalcamento que separa seu estado infantil do seu estado atual. ” (Freud Edição Standard Brasileira, vol. l, p. 30.) Assim
Freud considera que esta é uma experiência que transcende a vivência individual, sendo, portanto um evento universal, no
início de todas as infâncias.
4. A FALA DE FREUD
“Se Édipo Rei é capaz de comover um moderno leitor ou frequentador de teatro não menos poderosamente do que comoveu
os gregos de antanho, a única explicação possível é que o efeito da tragédia grega não depende do conflito entre o destino e
a vontade humana, mas da natureza peculiar da matéria, através da qual esse conflito se revela. Deve existir uma voz, dentro
de nós, que está preparada para reconhecer o poder coagente do destino no Édipo Rei… E existe realmente um motivo no
Édipo Rei que explica o veredicto dessa voz íntima. Seu destino comove-nos, somente, porque poderia ter sido o nosso,
porque o oráculo fez recair sobre nós, antes de nosso nascimento, apropria maldição que sobre ele tombara. ” (Idem, p. 28)
O grande pensador sabe aproveitar toda a força dramática / trágica do teatro grego clássico. Há fatores ligados a Zeus ou ao
destino, acima da decisão humana. Existem imprinting ou marcas escritas que acompanham o humano desde seu
nascimento.
5. E PROSSEGUE FREUD:
“Pode ser que estivéssemos todos destinados a dirigir nossos primeiros impulsos vitais para nossa mãe, e nossos primeiros
impulsos de ódio e resistência para nosso pai; nossos sonhos nos convencem de que, de fato, estávamos. O Rei Édipo, que
assassinou seu pai Laio e desposou sua mãe Jocasta, é nem mais nem menos do que um desejo-efetivação: a efetivação do
desejo de nossa infância. Mas nós, mais felizes do que ele, na medida em que não nos tornamos psiconeuróticos, logramos*
desde nossa infância, afastar de nossa mãe os nossos impulsos sensuais e esquecer nosso ciúme em relação a nosso pai.
Repugna-nos a pessoa em quem esse primitivo desejo de nossa infância se concretizou, com toda a força de repressão que
esses desejos desencadearam em nossas mentes, desde a infância”.
6. QUA É A IDÉIA DE CULPA QUE FREUD DESENVOLVE?
Para ele todos nós carregamos impulsos semelhantes aos de Édipo da lenda. À medida que o poeta vem trazendo a culpa de
Édipo para a luz por meio de sua investigação, força-nos a ganhar consciência de nossos próprios íntimos, nos quais os
mesmos impulsos estão ainda latentes, embora se encontrem suprimidos… “Como Édipo, vivemos na ignorância dos desejos
que ofendem a moralidade, desejos que a natureza nos impôs e, depois de desvendados, talvez prefiramos desviar nossos
olhares das cenas de nossa infância.”
6. QUAIS SÃO OS OBJETIVOS?
O objetivo do presente estudo é permitir ao psicólogo e ao analista uma compreensão básica do grande postulado de Freud.
Simultaneamente estabelecer alguns parâmetros que permitam situar o Complexo de Édipo no conjunto da teoria freudiana
da psicanálise.
7. QUAL É A JUSTIFICATIVA?
As razões que justificam a escolha do tema são de caráter subjetivo e de caráter objetivo. Pessoalmente, na vivência do
atendimento clínico, são inúmeras as situações em que os sentimentos íntimos do cliente manifestam a correta formulação
teórica de Freud.
Em termos objetivos cumpre alinhar como justificativas:
Na psicanálise freudiana o postulado do Complexo de Édipo ocupa uma posição de relevo.
A repercussão desta idéia de Freud entre os teóricos da psicanálise foi muito ampla e continua a crescer.
Não obstante a quantidade de estudos sobre o assunto na literatura especializada, ainda são poucos os estudos
brasileiros sobre o assunto, razão esta que ajudou a nos decidir pelo tema.
8. EXPLIQUE O COMPLEXO — FREUD — PSICANÁLISE E JUNG
Surgimento do termo “complexo” Criada por Jung*, a palavra complexo foi assumida por Freud. Este logo o desligou da idéia
de associação de termos como praticava Jung. Freud o deslocou para explicação do mundo do inconsciente, sua grande
criação.
8.1. Para Jung, complexo significa:
“Associação de ideias em torno de um conteúdo emocionalmente carregado, os quais foram reprimidos, mas podem surgir na
consciência, sob múltiplos disfarces, para exercer importante influência no comportamento e no pensamento do indivíduo”.
(Aligemeines Zur Komplex-Theorie, 1934.) Este conceito foi integralmente aceito pela psicanálise freudiana e passou a
constituir um elemento central na teoria da ansiedade e culpa neurótica. (Cabral, 1971.)
•Jung nunca perdoou o “roubo” de Freud. Separados desde 1913, Jung, tempos depois, em 1934, ainda se i do colega.
8.2. Segundo Mucchielli (1976),
Nossos complexos estão lá, não se integram no nosso eu. Guardam sua autonomia e estão sempre prontos a saltar do
passado/inconsciente para nosso presente/consciente, sem qualquer consulta e sem qualquer autorização do nosso eu. A
reação “complexal” brota com a força de um bloco de granito. Equivale a um golpe ou uma pedrada que o indivíduo só
percebe quando se inibe em dada situação, perde o autodomínio, falha e não reage como gostaria. Na concepção de Jung o
complexo seria uma “vida parasitária” (poderíamos dizer uma “ameba”), uma consciência crispada em uma alma
desconhecida, que surge de repente, surpreende, abala ou mesmo derruba um ser humano.
O QUE SÃO CARACTERÍSTICA DOS COMPLEXOS É SUA ORIGEM INDIVIDUAL?
“são acontecimentos do passado tais como foram vividos pelo eu, com seus meios próprios e no estado geral onde se
encontrava na época considerada.” (Mucchielli, 1976).
Trata-se, portanto de uma “realidade psicológica”, não de uma realidade material histórica, como dizia Freud na
“Interpretação dos Sonhos” (Traumdentung), em 1900.
Temos, assim, que os complexos são conglomerados ou “pacotes”, com um componente afetivo e semi-racionais, não
localizados na consciência. Todavia eles incomodam, “chateiam”, provocam as defesas naturais do eu pelo esquecimento,
sublimação, negação e outros mecanismos de defesa. Naturalmente nada disto ocorre no nível da consciência.
9. QUAL É A NATUREZA DO COMPLEXO DE ÉDIPO?
Este é o complexo dos complexos e representou em Freud uma orientação totalmente nova. Por ele descrito em 1903,
O “Complexo de Édipo” constitui um núcleo, um bloco de sentimentos específicos e de grande influência na vida emocional
das crianças entre 3 e 5 anos. Usando uma linguagem simplificadora, podemos afirmar que esses sentimentos são de dupla
natureza. Tanto significam atração e admiração do fílho pela mãe e da filha pelo pai como também inveja, hostilidade e até
mesmo desejo de morte para o genitor do mesmo sexo.
Cada criança pode figurar de diferentes formas seu amor / desamor particular, em função desses sentimentos
edipianos. “Essas reações se situarão num contínuo desde um mero condicionamento, uma “tara” psicomotora crônica ou
não, até um grave defeito de caráter, podendo chegar ao nível de doença psíquica”, neurose ou psicose.
A natureza do complexo, na explicação freudiana, tem uma forma positiva. O filho deseja matar o pai para esposar a
mãe, consoante o drama do Édipo-Rei, narrado por Sófocles. A filha deseja a eliminação da mãe para casar-se com o próprio
pai. É a “Complexa de Electra”, terminologia não freudiana*. Mas o complexo também se manifesta numa versão “negativa”.
Aí se dá, inversamente, o amor pelo genitor do mesmo sexo e ao genitor do sexo oposto ódio e inveja. Freud não receou
universalizar sua hipótese. Todo ser humano, de qualquer cultura, constrói / estrutura a própria vida afetiva. A partir daí todos
têm de resolver seu complexo e ficam marcados pela forma como o fazem.
“Se recalcado, não resolvido, o “complexo” cairá no inconsciente, alimentarão todas as perturbações patológicas da
personalidade, todas as aversões do eu e todos os outros “pequenos complexos “da vida cotidiana que são seus desfechos. ”
(Mucchielli, 1976).
Para Freud, o Complexo de Édipo / Electra é um lócus central do inconsciente. Por que este nó edipiano, pleno de
sentimentos violentos e antagónicos, não se desfazem naturalmente? Aqui nos deparamos com a idéia do sentimento de
culpa, cuja adequada compreensão é fundamental para a psicanálise. O desejo prestar (atenção neste significante!)
incestuoso e o desejo do assassínio estão plenos de culpabilidade e de punição social. Culpa e angústia despertam também
as proibições / restrições familiar às manifestações de amor edípico. O termo angústia (Angst, em alemão) para Freud é mais
do que ansiedade. E o próprio étimo da palavra o sugere, pois, em latim angústia é estreitamento / sufocação. Assim, por
volta dos 5 anos, o complexo recalcado, se enterra no inconsciente da criança. Começa, aí, portanto, a fase de latência do
Complexo de Édipo. Ele ficará adormecido / incubado, governado pelo superego e só voltará a manifestar-se na puberdade.
Neste momento, eclode, então, com toda força. A partir daí, o Complexo de Édipo vai mostrar seu papel decisivo na
orientação dos desejos sexuais do ser humano.
10. O QUE FREUD DEDUZ NO COMPLEXO DE CASTRAÇÃO?
Da idéia / sentimento de culpabilidade, Freud deduz a existência do Complexo de Castração, uma conseqüência do problema
edipiano. A partir de 1908 os dois complexos caminham juntos na teoria freudiana clássica. Não aplicamos, evidentemente, a
esta associação argumentos exclusivamente racionais, injustificáveis em psicanálise. À angústia da culpabilidade, originada
do Complexo de Édipo, se alia o Complexo de Castração. Tudo decorre do medo de punição. O menino, possuidor de
desejos culposos teme ser castigado pelo pai. A menina, como não tem mais pênis, atribui sua castração à punição materna.
10.1. Toda a construção freudiana se baseia na suposição de que, no período dos 3 aos 5 anos, acontece a idade
fálica.
“A unidade do complexo de castração nos 2 sexos só é concebível por um fundamento comum. Ofalo-objeto da
castração reveste-se de importância igual para a menina e para o menino. A questão colocada é a mesma: ter falo ou não ter.
” (Vocabulário de Psicanálise, citado por Mucchielli, 1971).
É válido concordar com o fato de que entre 3 e 5 anos se dá a aceitação do próprio sexo. Daí decorre uma provável
autoafirmação interior. Mas também se deve acrescentar a este interesse anatômico pelo sexo todo o sistema de relações
afetivas na constelação familiar, durante o período dos sentimentos edipianos.
Na visão freudiana, Édipo / Castração é um pivô axial de toda a vida humana. E o complexo dos complexos. A vida do
ser humano está repleta de outros escolhos / complexos de importância menor: de inferioridade, de rejeição, de gata
borralheira, etc.
10.1.1. O Complexo de Édipo e culpa humana: uma trajetória de estudo
Também o Complexo de Édipo, a invenção fundamental da Psicanálise foi revelada, inicialmente, através do estudo
dos sonhos. Como chegar até lá sem violentar a progressividade da trajetória? Pois, para Freud, esta trajetória foi longa e
pontuada de ansiedade.
O caminho do presente trabalho não deixa de ser arriscado. A pretensão é refazer, em companhia de Freud, o
caminho da criação da psicanálise, sublinhando o sentimento de culpa. Freud foi um teorizador sui generis. Fazia-se de
cobaia das próprias ideias e se autoanalisava permanentemente.
11. O QUE SÃO OS SONHOS, MITOS E SIMBOLISMO?
Seguindo esta pista será possível desvelar aspectos vários da psicanálise, ainda que tudo depois necessite ser costurado.
Falar em sonhos é falar no simbólico. Freud induziu da experiência dos sonhos— os seus e os alheios— uma nova dimensão
do ser humano. Sobre a importância do simbólico, o filósofo Ernst Cassirer, ampliando as ideias de Dilthey, tem coragem de
afirmar: “Razão é um termo muito pouco adequado para as formas da vida cultural do homem em toda sua riqueza e
variedade. Mas todas estas formas são simbólicas. Portanto, em lugar de definir o homem como um animal rationale, deveria
defini-lo como um animal symbolicum. Deste modo podemos designar sua diferença específica e podemos compreender o
novo caminho aberto ao homem: o da civilização. ” (Cassirer, 1972.).
11.1. Como considerar a linguagem simbólica?
“Todas as grandes culturas do passado consideram a linguagem simbólica e, portanto, os sonhos e mitos, como altamente
significativos e como expressões de experiência universais e individuais; a compreensão de símbolos converteu-se numa arte
com importante função cultural. Mas, ao passo que continuamos todos falando essa linguagem, em nossos sonhos,
esquecemos, entretanto, seu significado, para considerável detrimento de nossa percepção do passado da raça humana e da
profundidade de nossas experiências.” (Idem, ibidem).
12. NA PSICANÁLISE A CONSTRUÇÃO É MAIS QUE O EDIFÍCIO? SIM,
Trata-se de uma construção que Freud vai alicerçando e levantando aos poucos. Podemos afirmar que ela se fundamenta um
conjunto de postulados.
1. A psicanálise surge com a proposta inicial de um método para identificar as causas e propor medidas de cura das
neuroses.
2. Freud, numa espetacular intuição, formula a tese do inconsciente humano. Ai se acumulam os complexos (tumores
psíquicos) “desagradáveis”, “inevitáveis”, “irresistíveis” porque existe, a nível de consciência um elemento avaliador chamado
“censura” (superego).
3 Cabe à censura eliminar os complexos empurrando-os para o inconsciente (o id.). Quando não o consegue, os
complexos retornam da zona pré-consciente e passam a condicionar muitos atos da vida consciente que não podem ser
compreendidos por uma analise superficial. Freud é bom notar, aceita este determinismo.
4 O consciente é então assaltado pelos erros, os atos falhos, os equívocos, os atos reprováveis. Tudo isto toma o
sentido de símbolos ou fantasmas ou representações de complexos que, assim disfarçados, invadem a consciência.
5 O psiquismo consciente (o ego) se forma, em grande parte, por esta rede de complexos repelidos (recalcados) e
novamente retomados.
6 A psicanálise enquanto terapia, ante o desafio de determinar as causas das perturbações psíquicas em que consiste?
Consiste exatamente em estabelecer um vinculo de conservação com o paciente. (Ver o conceito de transferência.) O
analista deverá, então proceder à análise dos gestos, sonhos e também de todos os símbolos e sinais. Nesta análise, analista
e analisando vão procurar a verdadeira qualidade dos complexos. É normal que o paciente os desconheça, pois os rechaça
(recalca) habitualmente, expulsando-os de sua consciência.
7 A cura completa advém da representação consciente pelo analisando da causa verdadeira dos seus transtornos. Neste
momento deve acontecer a catarse, que supera o nível da censura.
8 Qual o sinal de que os complexos foram totalmente erradicados? O sinal é quando a consciência pode vê-los sem
censurá-los. Ou seja, quando não são mais escorraçados para o inconsciente.
9 Mas a psicanálise já deixou de ser apenas método terapêutico Atualmente é vista por muitos pensadores como uma
interpretação válida e completa da vida psíquica. Outros vão além e consideram a psicanálise como concepção geral do
próprio homem e de toda a vida humana.
10. Esta interpretação totalizante se torna possível pela hipótese de que o fator sexual é o fator predominante da vida
humana.
11. A união do inconsciente com o sexual levou Freud a uma interpretação não só das perturbações, mas também das
sublimações, ou seja, da própria vida espiritual do homem. Estes atos espirituais elevados funcionam como repressões e
negações dos atos inferiores, chegando enfim à sua eliminação na consciência.
12. Há quem veja a psicanálise como uma teoria total do homem, uma verdadeira concepção de ser humano. Trata-se de
uma autêntica interpretação filosófica.
13. Cumpre assinalar que a hipótese do pansexualismo (via libido) foi progressivamente abandonada por Freud. Ele fez
intervir outros fatores, como o “impulso de destruição”, situado muito além do “princípio do prazer.”
Qualquer das ideias próprias de Freud, como a do complexo de Édipo, não pode ser adequadamente compreendida quando
isolada. “Terá de ser entendida à luz de suas outras ideias sobre a evolução humana”. (Mullahy, 1978, p. 29.)
13. COMO CHEGAR ATÉ O COMPLEXO DE ÉDIPO?
Muitos roteiros são possíveis. Parece conveniente acompanhar tanto quanto possível a trajetória do próprio Freud. Isto
implica de saída, valorizar o papel dos sonhos como ele próprio o fez. E, a partir daí, observar um balizamento, distribuí doem
várias etapas.
1. A constatação da ideia de culpa.
2. Análise do “sentimento de culpa”, como visto por Freud.
3. Forças masoquistas e reações terapêuticas negativas podem não ser reconhecíveis e talvez fujam à regra geral que é o
princípio do prazer.
4. Complexo de inferioridade, seu aspecto exótico e sua relação com o sentimento de culpa.
5. Outras culpas ligadas à fatalidade, a “neurose de destino”. Reações terapêuticas negativas, pulsões de morte.
6. A trajetória do racionalismo ao simbolismo dos sonhos e à concepção do inconsciente.
7. Como localizar a culpa no inconsciente.
Este é o mapeamento inicial. Depois veremos que a complexidade do pensamento freudiano nos obrigará a outras incursões
pelo mundo sedutor da psicanálise.
14. FREUD COMEÇA PELO SENTIMENTO DE CULPA
14.1. Qual é o ponto de partida de Freud?
Uma retomada do caminho bíblico, este parece ser o ponto de partida de Freud. O Complexo de Édipo tem, na teoria
psicanalítica freudiana, a mesma força que possui o pecado original na religião mosaico-cristã. As coincidências são muitas.
A idéia de pecado está igualmente associada a uma queda, um ato culposo. A história do pecado original vem narrada em
forma mítico-poética, característica da linguagem do 1° livro do Pentateuco, o Gênesis. Trata-se de um ato individual, que
ocorre num momento de inocência. O Éden relembra a infância. Há um Superego Divino, a própria Javé. Há o componente
sexual — já que Adão e Eva se descobrem nus. Mas, essencialmente, existe a quebra de uma norma proibida. Distingue-se,
também, um apelo ao inconsciente, já que a culpa nunca se apaga e sempre se transmite à geração seguinte. Ela macula as
gerações que estão nascendo, há milhares de anos, sujeitas ao evento / mito gerador da culpa, mesmo inexistindo qualquer
memória pessoal a respeito.
Pela doutrina religiosa se explica a culpa. E a religião também poderá servir-lhe de terapia. Pois já nasceu, há 2.000
anos, o Redentor que expiou a queda primeira, com sua própria vida e instituiu a prática do batismo. Este é sacramento /
instrumento de caracterização dos que passam a serem filhos de Deus, purificados da mácula original.
Todas as culpas e fracassos humanos têm a ver, na concepção freudiana, com o Complexo de Édipo. Será uma
interessante linha de pensamento, refazer, em companhia de Freud, a trajetória da culpabilidade humana, sua sistematização
científica pela psicanálise e seu significado para as pessoas e para a própria humanidade.
Culpa — culpabilidade — “necessidade de castigo “É válido afirmar que toda a psicanálise de Freud nasce da
constatação de que seus pacientes manifestavam comportamentos sofridos de quem errou ou delinquiu”“. Ele registrou os
comportamentos das histéricas que ele assistia, dos deprimidos, dos neuróticos obsessivos. Autoestima em baixa, resistência
à cura, desprezo pêlos progressos pessoais alcançados, revelavam pessoas que se consideravam obrigadas à punição.
Freud criou a expressão “sentimento inconsciente de culpa”. Não era uma boa expressão, embora tenha persistido até
nossos dias.
É curioso notar que o sentimento (psicológico) de culpa se assemelha à idéia religiosa de pecado. Mas, neste caso, à
exceção do pecado original, o pecador tem idéia clara do preceito que descumpriu e do perdão (com ou sem pena) que lhe é
dado obter. Ou seja, tudo acontece no nível da consciência.
Já a culpa psicológica revela estado de tensão entre o ego e o superego. São efeitos subjetivos, cuja etiologia o
indivíduo não consegue analisar sozinho. Difícil encontrar um ser humano que não se sinta merecedor de algum tipo de
expiação*. O homem encontra mil motivos para culpar-se: fracassos, atitudes de submissão, vergonha de si mesmo,
audácias descabidas, autopunições, medos, ansiedades, ambição pelo poder. Todas são formas de colocar-se acima da
justiça. É a manifestação do próprio desejo (auto reprovado) de perfeição ou de felicidade.
Freud chegou a admitir que a expressão “necessidade de castigo” talvez fosse mais adequada que “sentimento de
culpa”.
Freud não advoga a existência da culpa original. Crê na inocência ética da primeira infância*. A culpa nasce com a
constituição do superego. O que não elimina a hipótese de que o fenômeno da culpabilidade tenha mais componentes
culturais que psíquicos. Não está descartada a hipótese de um superego masoquista, averso a propostas de cura por si
mesmo, apoiado nas próprias forças. São aqueles conhecidos e contundentes casos de fracasso de qualquer tipo de
psicanálise.
15. CULPA: COMO ELA É VISTA PELA PSICANÁLISE
Se o sentimento de culpa abre as portas à psicanálise, responde, em contrapartida por questões que esta não conseguiu
explicar. O depoimento é do próprio Freud em Moisés e o Monoteísmo, “Análise Terminável e Interminável”:
Alias. Freud descurou, em sua teoria, do período infantil que decorre da vida uterina até aos 3 anos. Ao que consta coube a
Melaine Klein preencher de forma competente este hiato, teorizando a respeito.
“Uma parte dessa força já foi por nós identificados, indubitavelmente com justiça, como sentimento de culpa e necessidade
de punição e foi por nós localizados na relação do ego com o superego. Mas essa é apenas uma parte dela que, por assim
dizer, está psiquicamente presa pelo superego e assim se torna reconhecível; outras cotas da mesma força querem presas,
quer livre, podem estar em ação em outros lugares não especificados. Se tomarmos em consideração o quadro total formado
pêlos fenómenos de masoquismo imanentes em tantas pessoas, a reação terapêutica negativa e o sentimento de culpa
encontrados em tantos neuróticos, não mais poderemos aderir à crença de que os eventos mentais são governados
exclusivamente pelo desejo de prazer.” (Freud, ESB, vol. XXIII, p. 276.)
16. ANÁLISE DO COMPLEXO DE ÉDIPO, À LUZ DA PSICANÁLISE FREUDIANA.
16.1. Partindo do inconsciente
Pela via do sonho e das reminiscências presentes na histeria, Freud chega à constatação de um novo “topos”, o inconsciente
humano. Assim o explica:
“O inconsciente abrange, por um lado, atos que são meramente latentes, temporariamente inconscientes, mas que em
nenhum outro aspecto diferem dos atos conscientes e, casos se tornassem conscientes, estariam propensos a sobressair
num contraste mais grosseiro com o restante dos processos conscientes.” (ESB, vol. XIV, p. 198)
Foi só em 1900, na “Interpretação dos Sonhos”, que Freud chegou à plena noção de inconsciente. É verdade que já o intuíra,
desde 1893, quando trabalhava a histeria, na companhia de Breuer. É também verdade que o inconsciente freudiano de 1900
ainda será bastante aperfeiçoado, sempre através dos caminhos franqueados pela análise dos sonhos.
O inconsciente para o grande pensador é apenas o topos que reúne tudo o que não está na consciência. É, além disso, um
campo dinâmico, um sistema em ebulição com suas características próprias, avesso à realidade, mas com uma lei própria: a
do prazer-desprazer, sinais que caracterizam o mundo obscuro dos desejos humanos.
O inconsciente não é jamais um vazio. Possui conteúdos fantásticos, cujo acesso ao mundo do consciente ou mesmo do pré-
consciente foi vetado pelo recalque. Os conteúdos do inconsciente só costumam ascender à consciência, através de
encenações, cuja emoção e afetividade representam a forma de se manifestarem. O inconsciente é rico em histórias
imaginárias que refletem pulsões proibidas, desejos pouco nítidos, mas de notável influência no psiquismo.
Neste sub-reino de desejos, a energia do psiquismo está sempre fluindo, ou energia livre que segue os devaneios do
princípio do prazer ou as associações / conexões impostas pelo princípio da realidade. Na “Interpretação dos Sonhos II”,
16.2. Para além do onírico
Freud teve o descortino de basear seus construtos teóricos na “ciência dos sonhos”. Por outro lado, pode ter-se como um
predestinado, pois ele, Freud sonhou, conforme descreveu sonhos de muito valor pedagógico. Deles soube extrair muitas
consequências, submetendo-os a uma autoanálise de notável perspicácia.
“os sonhos não podem reivindicar importância prática, mas seu valor teórico como paradigma, é por outro lado,
proporcionalmente maior. Quem quer que tenha falhado em explicar a origem das imagens oníricas, quase não pode esperar
compreender as fobias, obsessões ou delírios, ou fazer com que uma influência terapêutica se faça sentir sobre elas.” (ESB,
vol IV.)
E complementa com autoridade, afirmando que “os sonhos têm realmente um sentido e que um método científico de
interpretá-los é possível”. Esta é a primeira grande afirmação de Freud sobre os sonhos. Mas ele defende também a idéia de
que, pela via dos sonhos, o homem realiza desejos.
*”Processo que transfere um sentimento, emoção ou desejo de um grupo de ideias para uma só idéia” (Cabral, 1971,. 79.) **“
… transferência de emoções ou fantasias do objeto a que estavam originalmente associadas, para um substituto;
transferência da libido de uma forma de expressão para outra.” (Cabral, 1971, p. 99) Outra consequência é que toda a
Patologia Psíquica pode ser considerada uma consequência da interpretação onírica. É a terapia “em vigília”, usando a
objetividade da mensagem dos sonhos. Freud o constatou, comparando as paranoias e atos casuais aos mecanismos da
elaboração onírica.
16.3. Outros princípios necessários
Estabelecida a importância da interpretação onírica como base para o estudo da Psicopatologia, cumpre identificar outras
noções que ajudarão na trajetória até ao Complexo de Édipo. Foram selecionadas as noções de:
1 Princípio do Prazer
2 Libido
3 Censura Defesa e Recalque
4 Narcisismo e Psiconeuroses Narcísicas
5 Melancolia
16.4. Princípio do Prazer
Segundo Freud, existe no comportamento do ser humano um objetivo fundamental e que transparece no seu psiquismo. A
busca da excitação agradável e a evitação da dor. Este “princípio do prazer” regularia todo o organismo humano. Mas o que
se observa é que a excitação do prazer tende a decrescer, enquanto a dor tende a aumentar a soma dos estímulos.
“Freud admite não saber, em pormenor, como o prazer está relacionado com o decréscimo de estimulação e a dor com seu
recrudescimento. De modo geral, os processos de prazer e dor estão relacionados com alterações “econômicas” ou
quantitativas de energia. A atividade sexual, que, de acordo com Freud, é a experiência mais intensa de excitação agradável,
deixa poucas dúvidas sobre esse ponto. Freud explica o princípio do prazer de outro modo, dizendo que qualquer processo
determinado se origina num desagradável estado de tensão e, por conseguinte, determina para si próprio um rumo tal que
sua conclusão última coincide com um relaxamento dessa tensão”. (Beyond. The Pleasure Principie — Hogarth Press Ltd.,
1942 , p. l Apud Mullahy, 1978).
O estado de tensão, além de certo ponto, é doloroso e remete ao sentimento de culpa. Já a descarga da tensão, como no
orgasmo sexual, libera sensação de prazer, mas pode ao mesmo tempo acompanhar-se também do sentimento de culpa.
Parece que, em face disso, o psiquismo procura manter constante ou mesmo baixa sua quantidade de excitação.
16.5. Libido
A libido é tida como força despertadora do prazer. Ego e libido estão relacionados com o passado mais longínquo do ser
humano. Libido, segundo Freud, está ligada às forças instintivas da vida sexual. Povos que ambicionaram crescer e dominar
foram levados a exercer uma auto-negação dos seus impulsos, sobretudo os excessos sexuais, para preservar sua auto-
observação*. Mais uma vez os tabus ligados à contenção sexual se prestam a ocasiões de sentimento de culpa.
17. EM PSICANÁLISE COMO O TERMO LIBIDO É HOJE USADO?
*Através dos mandamentos, sob a liderança de Moisés, o povo judeu, sublimou seus impulsos por razões religiosas, valorizou
a família monogâmica e marcou presença na história. Diferentemente das cerca de 10.000 culturas, que, segundo
antropólogos, já desapareceram até hoje.
“Qualquer manifestação instintiva que tenda para a conservação da vida (sinônimo Eros) em vez de morte (sinônimo
Thanatos).,. até chegarmos ao conceito genérico de energia vital” … … a definição inicial (de Freud) já ganhou ressonância
histórica: libido é a expressão direta ou indireta de um desejo sexual”. (Cabral, 1971, p. 223)
18. CENSURA DEFESA E RECALQUE NA VISÃO DE FREUD.
Censura
Em seus escritos, Freud parece colocar a censura sempre ao nível do ego, Lacunas, lapsus linguae, “espaços” em branco,
são suas manifestações. Às vezes, Freud inclui a censura no campo mais amplo da defesa. Mas ao descrever a idéia de
superego, Freud confia-lhe o papel de “consciência moral”, vigia implacável do ego. Mais uma vez e sempre presente, a ideia
de culpa. Neste caso, conflituosa.
18.1. Defesa:
Trata-se de uma nítida proteção contra determinados afetos / sentimentos de vergonha, humilhação, medo, remorso, etc. Em
1894 a noção /instinto / de mecanismo de defesa é assim proposta por Freud.
“Conheço três mecanismos: primeiro — o da conversão dos afetos (histeria de conversão); segundo — o do deslocamento do
afeto (obsessões) e, terceiro — o da transformação do afeto (neurose de angústia e melancolia) ” (ESB, VOL. l).
É bom que se ressalte o termo angústia e o termo melancolia que referem uma auto decepção. Culposa? Tudo indica que
assim deva ser entendida.
18.2. Recalque — repressão
Vimos como, antes, Freud usava o termo defesa na mesma acepção e, às vezes, recalcamento*. Na ESB aparece o termo
repressão,
“A repressão é um mecanismo de defesa contra a ansiedade e a culpa, geradas por impulsos sexuais ou agressivos; A
repressão é realizada pela instituição de censura do ego, ou superego; As atividades ou conteúdos mentais reprimidos do
consciente mantêm-se no inconsciente (id) e, não podendo vencer o princípio da realidade, logram manifestar-se no
consciente através de representações simbólicas: sonhos, divagações, etc, que são as únicas formas aceitáveis pelo ego”.
(Cabral, 1971.).
Aparece novamente a ansiedade e a culpa, como elementos sempre presentes ao psiquismo humano.
18.3. Narcisismo e psiconeuroses narcísicas
No narcisismo** pode-se dizer que o ideal do ego passa a competir com o superego. O narcisista permanece longo tempo ou
sempre em atividades auto eróticas na conquista de um objeto amoroso que é ele mesmo.
A partir deste ponto, fica bem clara a ponte que estamos tentando estabelecer para chegar ao Complexo de Édipo. Freud
mostra que apesar de tão grave a psiconeurose narcísica pode ser “um complemento libidinoso” de um “egoísmo” que
poderia “justificadamente ” ser atribuído a todo ser vivo.
Tudo isto mostra como a ansiedade da culpa se acha entranhada em todo o psiquismo humano. Não é sem outro objetivo
que vimos cumprindo esta trajetória até aqui: identificar este núcleo de culpabilidade, culminando no Complexo de Édipo.
Pelo narcisismo o ser humano busca a sensação de onipotência. O ego só se desenvolverá se for possível superar a
parafrenia narcísica. O ideal do ego (ou ego ideal?) passa a ser também o ideal da família, de uma classe ou de toda a
sociedade.
“A falta de satisfação que brota da não realização desse ideal libera a libido homossexual, sendo esta transformada em
sentimento de culpa (ansiedade social). Originalmente este sentimento de culpa era o temor de punição pêlos pais, ou, mais
corretamente, o medo de o ser por um número indefinido de pessoas”. (ESB, vol. XIV).
Isto significa que o narcisista tende a se isolar de todos. Já se trata de anomalia muito grave. Esquizofrenia? Freud propõe o
termo parafrenia, uma forma de demência. De qualquer forma, a psicanálise nada poderia fazer por eles.
18.4. Melancolia
A melancolia pode ser incluída na continuação do tema narcisismo. A partir do narcisismo e do “ideal de ego” surge um
“agente crítico” provocador da melancolia. Esta lembra a ansiedade do fracasso. O melancólico tem um estado de ânimo
derrotista, perde o interesse pelo amor e sente inibição por qualquer tipo de atividade.
Freud aproxima a melancolia do luto. Neste a perda gira no nível da consciência. Na melancolia não se tem consciência da
dimensão da perda. E pode transformar-se em estado permanente ou mania. O melancólico pode identificar-se com seu eu
narcisista. Daí brota o ódio por si mesmo. Este sofrimento próprio tende a conduzir a uma autossatisfação do tipo sádico. “A
autotortura na melancolia, sem dúvida agradável, significa, do mesmo modo que o fenômeno correspondente na neurose
obsessiva, uma satisfação das tendências do sadismo e do ódio relacionadas a um objeto, que retornaram ao próprio ego do
indivíduo nas formas que vimos examinando. (…) A catexia erótica do melancólico no tocante a seu objeto sofreu assim uma
dupla vicissitude: parte dela retrocedeu á identificação, mas a outra parte, sob a influência do conflito devido à ambivalência,
foi levada de volta à etapa de sadismo que se acha próxima do conflito. ” (ESB, vol. I, p. 284)
19. CONCLUSÃO
Para concluir basta assinalar que o Édipo faz parte das fantasias culturais primitivas. São filogeneticamente transmitidas
enquanto sistemas que constroem a vida psíquica de todo homem. A sedução, a castração, o ódio são patrimônio “do animal
rationale” Qualquer semelhança com o pecado original não é mera coincidência. A compreensão analítica de seu próprio
caso lhe ofereceu o meio de afinal perceber o que ocorre na vida profunda de seus doentes; depois, apoiando-se na
abundância de provas clínicas que acumulou, estende corajosamente essa lei a toda a humanidade. A partir daí a dupla
postulação do “Complexo de Édipo” (…) não é mais um fenômeno acidental que se refere exclusivamente à patologia, é uma
fatalidade, ou mais exatamente, a fatalidade humana por excelência, que em toda parte condiciona as próprias modalidades
da vida. (Robert, 1989, p. 90.) De qualquer forma, o amor recupera a alma humana do abismo. Que o seja da barbárie, da
loucura, da morte. A panaceia psicanalítica é o amor edípico. Uma linha da sociobiologia, que tem certa penetração, definiria
o amor e o Complexo de Édipo como formas de sobrevivência e perturbação do homem, frente aos desafios da natureza.
Nesta linha a culpabilidade cósmica teria outra dimensão. Como pensamento final nenhuma frase de efeito se faz necessária.
Basta lembrar como a Psicanálise chamou o homem para o centro de suas reflexões. Vem atendendo ao ideal socrático: só
vale a pena ser vivida uma vida que pode ser examinada.
*É a opinião esposada por Melanie Klein (1972).
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