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A PSICANÁLISE E SUAS POSSIBILIDADES NAS CLASSES MENOS FAVORECIDAS

Resumo

O trabalho de pesquisa é norteado no contexto das Possibilidades da Psicanálise, enquanto agente motivadora da investigação do profundo e escondido, junto as classes sociais menos favorecidas e na maioria das vezes desconhecedoras da metodologia da ética que escuta o inconsciente humano. Trás a reflexão sobre as possibilidades de contribuição da Psicanálise
junto a famílias comumente atendidas por Instituições de Assistência Social e Sistema Único de Saúde e suas interfases, como PSF – Programa Municipal de Saúde da Família. Neste
contexto, mostrar a Pré-Psicanálise onde fazemos a leitura dos primórdios atos de Freud, que constrói um caminho de Possibilidades na dedicação da saúde do ser humano e nas curvas dos seus maiores desafios buscando respostas para o que não se resolvia pela ciência médica comum, se vê como autor do mais espetacular processo de investigação do pensamento oculto e adormecido: O Inconsciente! Ferramenta de muitas possibilidades, a Psicanálise se torna o ouvido da dor da alma e propicia a sua cura pela fala. Nesta proposta, o Trabalho mostra que Freud cria a Psicanálise para a cura da dor da Alma do ser humano e não de alguns seres humanos, pois essa dor é pertinente a todos, independente de classe social, raça, cor e etnias.

INTRODUÇÃO

A Psicanálise deste os seus primórdios, ainda nas mãos unigênitas de Freud, deixava claro que sua proposta de tratamento dos distúrbios psíquicos não se tratava de uma
aventura leviana mas uma ciência nova que buscaria na história o seu lugar de direito.

Mesmo encara de forma tão misteriosa e cercada de ceticismo pela sociedade da época, Freud entende que sua “maravilha” de investigação do inconsciente, pela análise dos conteúdos profundos e escondidos teria que ser “imposta” e não simplesmente exposta como objeto de avaliação popular para sua aceitação ou não.

Freud, mais do que qualquer outro, acreditou no seu método, planejou, criou formas e formulas da sua aplicação e mostrou resultados que incomodou a sociedade médica e seus desafetos.

O Pai da Psicanálise preocupou-se em mostrar não só o que era o seu método mas também para que servia.

“Olhe dentro das Profundezas de sua própria alma e primeiro,
Aprenda a se conhecer, então você entenderá por que esta doença o atingiu e talvez doravante evite adoecer.”Sigmund Freud.
As doenças orgânicas eram o que existia e qualquer manifestação de desequilíbrio era o suficiente para o diagnóstico de loucura. O avanço da medicina com a divisão dos estudos desta loucura, postulada como Psiquiatria, vai atenuar os “Loucos” e diagnosticá-los de histéricos, mas passivos de internação e tratamentos dolorosos.

Sem entender causa e origem, atacam os sintomas com fortes medicamentos de contenção de ânimos, eletro-choques e a clausura até que este indivíduo possa ser devolvido a sociedade.

Freud participa desta etapa da história disgnóstica da medicina quanto a tratativa dos problemas psíquicos e discorda de seus métodos.

A Psicanálise de Freud propõe a investigação da causa e remete ao passado infantil os motivos das desordens emocionais na vida adulta. Cria o Aparelho Psíquico e o divide para melhor compreensão, que no princípio, apenas ele compreendia. Mas a descoberta é para o mundo, para quem tinha dor na alma, distúrbios psíquicos de causa desconhecida,
enfim, para a humanidade!

 

1. FREUD E SUAS  POSSIBILIDADES

1.1.- NASCER PARA O “EXISTIR”

Freud nasceu numa família de origem Judaicano dia 06 de Maio de 1856, na cidade de Freiberg, Império Austro-Hungaro. Essa cidade hoje chama-se Pribor e está localizada na República Checa. FREUD, significa Alegria!

Seu pai, Sr. Jakob Freud, era comerciante de tecidos e tinha 41 anos quando Freud nasceu e sua mãe, Sra. Amalie, tinha 21 anos. Recebendo o nome de Sigmund Schlomo Freud ficando mais conhecido como Sigmund Freud. O casal teve oito filhos e
Freud o primogênito.

Os historiadores afirmam que a mãe de Freud tinha verdadeira adoração pelo filho e costumava chamá-lo de “Meu Sigi de Ouro”.

1.2 – A MUDANÇA

Em 1859, uma forte crise econômica e que compromete o desenvolvimento industrial prejudica as atividades comerciais do Sr. Jakob Freud e este se vê na necessidade de mudar e estabelece por um ano na cidade de Leipzig, no leste da Alemanha e posteriormente muda-se para o Bairro Judeu de Viena, centro comercial da Áustria.

1.3-UMA VIDA DE CONHECIMENTOS

Em Viena Freud inicia a sua vida escolar e se torna um aluno brilhante. Sua trajetória até o seu ingresso na Faculdade foi marcada por elogios e reconhecimentos pela sua
dedicação nos estudos.

1.4 – A FORMAÇÃO ACADEMICA E SUAS OPORTUNIDADES

O Direito era o objetivo primeiro na construção da formação acadêmica de Freud, mas acabou decidindo-se pela medicina, que teve inicio em 1873 e graduou-se em 1881. Seus primeiros estudos foram focados na Histologia, na anatomia do cérebro e doenças neurológicas, postulando-se como Médico Neurologista. Diante de oportunidades, direcionou seus estudos para as neuroses psíquicas, o que chamou de Psiconeuroses, com especial atenção para a Histeria que era sintoma orgânico porém com origem psíquica. Neste contexto de vida, surge a oportunidade do casamento. Freud casou-se com Martha Bernays em 1886 com 26 anos de idade. Teve seu primeiro filho com 31 anos e mais 05 filhos ao longo de 8 anos.

2 – A PSICANÁLISE
2.1 – AS POSSIBILIDADES E TENTATIVAS

Avançando nos estudos dos sofrimentos psíquicos Freud abandona as
pesquisas e passa a dedicar-se ao Consultório onde recebe pacientes e ao longo dos seus
tratamentos vai alicerçando toda a sua teoria de um novo método que ele denomina de
PSICANÁLISE.

Freud percebe que a origem dos sofrimentos psíquicos dos seus pacientes
seria encontrada nos primeiros anos de suas vida e essas marcas estavam impressas em suas
mentes.

2.2 – OS RESULTADOS DO INÍCIO

Após uma viagem de estudos a Paris em 1885, o interesse de Freud pelas doenças psíquicas é determinante a ponto de abandonar a neurologia.

Mesmo considerando os seus perigos eminentes Freud utiliza-se de um Método que ele mesmo declara que tinha pouca habilidade: A Hipnose. O método é usado, porém, logo Freud percebe a sua ineficiência, pois o seu objetivo era criar uma situação favorável para que o analisado pudesse expor as suas memórias reprimidas, e muitos não era hipnotizáveis, tendo ainda o agravante do retorno da doença psíquica.

3 – AS DESCOBERTAS DE UM GÊNIO
3.1 – Fala, Falar, Falar…

Diante da percepção da ineficácia da Hipnose, Freud trabalha na criação de novos métodos que produziriam o resultado eminente compatível com suas expectativas no processo de cura das doenças psíquicas. Logo, Freud substitui a Hipnose por uma grande descoberta e que passaria ser um ícone da Psicanálise:

A Livre Associação. Tão importante, que é conhecida nos dias de hoje como regra fundamental no tratamento Psicanalítico. Nessa regra, o paciente é motivado a falar ao Analista tudo que vier a sua mente, principalmente o que tente a ser omitido e/ou censurado.

Por meio da análise da fala Freud descobriu que assim teria acesso as memórias reprimidas. A Psicanálise então é conhecida como a Cura pelas Palavras.

3.2 – Sonhos Falam.

Em sua busca no entendimento do funcionamento do Inconsciente, onde acredita Freud estar todas as lembranças reprimidas, ele passa a prestar a atenção aos sonhos de seus pacientes e com especial atenção aos seus detalhes passa a interpretá-los. Nessa busca por essa compreensão, Freud interpresa seus próprios sonhos. Em 1900 ele publica um dos
seus maiores clássicos “A Interpretação dos Sonhos”.

4. A PSICANÁLISE E SUAS REJEIÇÕES
4.1- A Sociedade dos Revoltosos

Freud se reconheceu um neurótico obsessivo no processo de criação da Psicanálise, mas afirmou também ter sido fundamental essa neurose obsessiva que lhe proporcionou disciplina de trabalho para a consolidação de seu trabalho.

Mas este trabalho sofreu fortes críticas e chegou a revoltar a Sociedade de Medicina de Viena. A oposição as teorias do Dr. Freud pelos seus colegas médicos foram eminentes e principalmente diante do discurso de que a Psicanálise foi construída em torno da sexualidade, incluindo-se neste contexto, a sexualidade infantil. Este ponto recebeu ataques
violentos dentro e fora do meio médico da época.

4.2- O Fogo da Intolerância

Em 1938, no mês de março, os Nazistas proliferam na Áustria e Freud se vê na necessidade de deixar Viena em função de uma forte perseguição a comunidade Judaica.

Freud vai para Londres e pouco tempo depois tem notícias de que seus livros são queimados em Praça Pública na Alemanha pelos Nazistas e declaram a Psicanálise de “Ciência Judaica”.
Os seguidores de Adolfo Hitler retiraram todas as expressões Psicanalíticas que estavam contidas nos Vocabulários de Psiquiatria e da Psicologia e na Alemanha, Psicanalistas são
perseguidos tendo que migrarem para países como a Inglaterra, Estados Unidos e Argentina.

5. AS DORES DO MAIOR PSICANALISTA

5.1- A dor da Perda

Diante de uma perseguição aos Judeus, Freud deixa Viena ajudado pelo então presidente americano Theodore Roosevelt e ainda um pagamento de resgate feito Marie Bonaparte, sobrinha-bisneta de Napoleão Bonaparte. Marie Bonaparte se tornaria mais tarde Psicanalista e tradutora dos livros de Freud e hoje, considerada uma das figuras mais importantes na consolidação da Psicanálise na França.

Freud perde a sua querida Viena. Mas perdas maiores viriam. Suas irmãs foram impedidas de saírem de Viena junto com Freud. Refugiado em Londres, sofre pela situação de suas irmãs e em pouco tempo, as quatro são executadas em campos de concentração nazista em Auschwitz.

5.2 – A dor do Câncer

A Noticia de que Freud estava acometido de uma doença mortal não abate o Guerreiro, que luta bravamente para permanecer vivo. Um câncer na mandíbula o leva a realizar na menos do que mais de 30 cirurgias.

5.3 – A Morte do Doutor

Na agonia da morte que é eminente mas que não vem como se não concordasse com sua partida, Doutor Freud chama outro doutor, seu médico particular, Max Schur e lhe faz um pedido doloroso: Que lhe aplicasse três doses de morfina para que a morte viesse. Tendo o consentimento de sua filha Anna Freud, Dr. Max atende o pedido do amigo e paciente ilustra. Estava morto o homem que ousou mexer nas profundezas da mente humana e que modificou a forma de tratamento e cura da alma. Com 83 anos, morre o Dr. Freud, no dia 23 de setembro de 1939.

6. A PSICANÁLISE E SUAS PROPOSTAS
6.1 – Ferramenta de Transformação

A Psicanálise avança no seu propósito mostrando inúmeras possibilidades de mudanças na vida do ser humano pela conscientização que se faz pela compreensão do seu profundo e escondido. Os precursores e discípulos de Freud vão potencializar aos longo dos anos essas possibilidades numa releitura da Psicanálise, ampliando este universo de compreensão onde muitas outras ferramentas são utilizadas somando as “clássicas” do Dr. Freud.

Haja visto as afirmações do próprio Freud sobre a eficácia da Psicanálise, que declara

“A Psicanálise encontra apoio sempre crescente como método
terapêutico, devido ao fato de que ela pode fazer mais pelos seus
pacientes do que qualquer outro método de tratamento” Sigmund Freud

7.A PSICANÁLISE E A BURGUESIA
7.1 – Um Acesso Restrito

Neste contexto das possibilidades da Psicanálise, a ciência que escuta o inconsciente se viu levada a uma minoria capaz de arcar com os pagamentos das consultas.

Considerada possibilidade exclusiva dos mais afortunados, esta linha de raciocínio teve força com o discurso do próprio Freud que era radicalmente contrário ao tratamento gratuito.

A sociedade e as sociedades secretas de uma época aristocráta, pactuam-se para “blindar” a Psicanálise que torna-se oportunidade de poucos.

viesse. Tendo o consentimento de sua filha Anna Freud, Dr. Max atende o pedido do amigo e paciente ilustra. Estava morto o homem que ousou mexer nas profundezas da mente humana e que modificou a forma de tratamento e cura da alma. Com 83 anos, morre o Dr. Freud, no dia 23 de setembro de 1939.

6. A PSICANÁLISE E SUAS PROPOSTAS
6.1 – Ferramenta de Transformação

A Psicanálise avança no seu propósito mostrando inúmeras possibilidades de mudanças na vida do ser humano pela conscientização que se faz pela compreensão do seu profundo e escondido. Os precursores e discípulos de Freud vão potencializar aos longo dos anos essas possibilidades numa releitura da Psicanálise, ampliando este universo de compreensão onde muitas outras ferramentas são utilizadas somando as “clássicas” do Dr. Freud.

Haja visto as afirmações do próprio Freud sobre a eficácia da Psicanálise, que declara “A Psicanálise encontra apoio sempre crescente como método terapêutico, devido ao fato de que ela pode fazer mais pelos seus pacientes do que qualquer outro método de tratamento” Sigmund Freud

7.A PSICANÁLISE E A BURGUESIA
7.1 – Um Acesso Restrito

Neste contexto das possibilidades da Psicanálise, a ciência que escuta o inconsciente se viu levada a uma minoria capaz de arcar com os pagamentos das consultas.

Considerada possibilidade exclusiva dos mais afortunados, esta linha de raciocínio teve força com o discurso do próprio Freud que era radicalmente contrário ao tratamento gratuito.

A sociedade e as sociedades secretas de uma época aristocráta, pactuam-se para “blindar” a Psicanálise que torna-se oportunidade de poucos.

 

8. A PSICANÁLISE E OS MENOS FAVORECIDOS
8.1 – Não à estes

A Psicanálise tem possibilidades que se agiganta nas suas propostas de tratamento dos transtornos psíquicos mas que não está alinhada com as necessidades destes tratamentos por aqueles que são classificados de “desprovidos” e “desfavorecidos” economicamente falando.

Existe de forma clara e bom tom um divisor de gentes. Os que podem e os que não podem. E a própria sociedade estabelece uma consciência equivocada de que a Psicanálise é para “Rico” ou ao menos “Classe Média” e que tem o poder do “Pagar” e Não a esses, denominados “Desfavorecidos” do poder do “Pagar”.

Recorrente a este conceito de entendimento da aplicação da Psicanálise, tornando-a objeto de difícil acesso pelos indivíduos mais pobres, tal conceito é fortalecido pela postura radical do próprio Freud, que mais tarde MUDA RADICALMENTE a sua
posição e se torna um pregador do acesso a Psicanálise pelos menos favorecidos financeiramente.

8.2 – Compreendendo as Classes menos Favorecidas

A visão do IBGE, baseada no número de salários mínimos se divide em cinco faixas de renda ou classes sociais, conforme a tabela abaixo válida para o ano de 2012 (salário mínimo em R$ 622). Esta tabela foi obtida a partir de vários artigos sobre classes sociais nas pesquisas do IBGE divulgados na imprensa.

CLASSE SALÁRIOS MÍNIMOS (SM)
A Acima 20 SM
B 10 a 20 SM
C 4 a 10 SM
D 1 a 3 SM
E Até 1 a 2 SM

Vale a reflexão de que a classe A, como a B, C, D e E, comumente classificada, é constituída de pessoas que de alguma forma estará seriamente prejudicada por algum transtorno psíquico e que a “Classificação” não os torna imunes por serem A ou E.
Trata-se de seres humanos e suas neuroses, psicoses e multi transtornos emocionais só mudam de endereço.

 

8.3 – O Papel das Instituições de Assistência Social e Rede Pública

Considerado um processo histórico de reformulação crítica e prática do sistema nacional de saúde mental, o movimento da reforma psiquiátrica, por exemplo, tem como objetivo o questionamento e a elaboração de propostas de transformação do modelo clássico das instituições psiquiátricas e do paradigma da psiquiatria.

Nessa perspectiva, a reforma psiquiátrica propõe um afastamento da figura médica da doença, que não leva em conta os aspectos subjetivos de cada paciente assistido, demarcando um campo de práticas e saberes que não se restringe ao saber médico e aos saberes psicológicos tradicionais, sem citar aqui a Psicanálise.

No cumprimento desse objetivo, esse movimento vem reorganizando o campo de práticas e de instituições de tratamento, tornando-se, cada vez mais, referência para o que se oferece como tratamento clínico e cuidados institucional e social para os casos que vêm sendo acompanhados pelos serviços públicos de saúde. No entanto o direito a saúde e o
tratamento físico são pertinentes a todos por diferentes modalidades de acesso a essa assistência médica.

Os Planos de Saúde estarão para as classes A, B e C assim como o SUS através das redes publicas de atendimentos estão para as demais Classes D e E.

Especialidades de tratamento da saúde mental estão disponíveis para as Classes de maior poder aquisitivo, incluído a Psiquiatria, Psicologia e Psicanálise.

No entanto, para as classes menos favorecidas, através do SUS e outras modalidades de assistência médica pela rede pública, estas especialidades para o tratamento da saúde mental são restritas e com a completa ausência da Psicanálise.

“…é possível prever que, mais cedo ou mais tarde, a consciência
despertará e lembrar-se-á de que o pobre tem exatamente tanto direito
a uma assistência à sua mente, […] e que as neuroses ameaçam a saúde
pública não menos do que a tuberculose […] Tais tratamentos, serão
gratuitos. Pode ser que passa um longo tempo antes que o Estado
chegue a compreender como são urgentes esses deveres..” Sigmund Freud

Freud fala de DIREITOS, por conta de uma formação Humana, que nos tornam pessoas iguais e independe da pobreza ou da riqueza, os direitos de assistência no tratamento da saúde mental são pertinentes a todos.

Freud alerta e potencializa a responsabilidade do Estado que deve prover no seu contexto de fornecimento de tratamento publico de saúde o acesso a assistência de cuidados da sua mente.

8.4 –A interpretação do Pagamento da Consulta Psicanalítica

Para Freud, o pagamento dos honorários do analista tem função reguladora da transferência tanto para o analista quanto para o paciente. A falta de pagamento tem consequências importantes: em relação ao paciente, aumenta suas resistências neuróticas ao tratamento; e, em relação ao analista, a prática filantrópica desinteressada desperta fantasias de sacrifício e de submissão. E mais, o analista corre o risco de os pacientes entenderem que ele não valoriza adequadamente seu trabalho. Freud adverte os analistas que, ao ocuparem-se das questões de honorários, devem considerar que as pessoas tratam as questões de dinheiro como as questões de sexo, ou seja, com incoerência, pudor e hipocrisia. O analista, ao conversar sobre pagamento, tempo de tratamento, prognóstico, regras da análise, entre outros temas, ‘educa’ o paciente para o convívio com a realidade externa.

Freud vai defender a “paga” pelos serviços prestados do Analista, mas sugere posteriormente, a gratuidade para os menos favorecidos, gratuidade essa que deve ser subsidiada pelo Estado.

Potenciais Analisandos de classes sociais menos favorecidas
economicamente, não tem acesso aos Consultórios Psicanalíticos inviabilizados pela falta da condição do pagamento de consulta, principalmente, considerando que o tratamento psicanalítico é longo na maioria dos casos e com pagamentos sequenciais por consulta.

Neste trabalho, levantam-se as diretrizes freudianas para uma prática da psicanálise com brasileiros de baixa renda, com pouca escolaridade e não familiarizados com o discurso psicanalítico pergunta-se: Após uma mudança na sua opinião de que a Psicanálise deveria chegar aos pobres, por que Freud considerava que essa população mais pobre precisava ser atendida por analistas mais experientes?

Segundo minhas pesquisas, o valor da psicanálise para Freud (1920) era o de ser um procedimento terapêutico que pode fornecer ajuda àqueles que sofrem em sua luta para atender às exigências da civilização e o Analista tem que estar preparado para este desafio.

“Esse auxílio deveria ser acessível também à grande multidão,
demasiado pobre para reembolsar um analista por seu laborioso
trabalho. Isso parece constituir uma necessidade social,
particularmente em nossos tempos, quando os estratos intelectuais da
população, sobremodo inclinados à neurose, estão mergulhando
irresistivelmente na pobreza” (Freud, 1920, p. 357).

9.O ATENDIMENTO PSICANALÍTICO E A POBREZA
9.1 – A mudança de Opinião de Freud

Minhas pesquisas identificaram que posteriormente a essa defesa do pagamento dos honorários do Analista e do discurso de que a Psicanálise estava para os mais afortunados, Freud muda radicalmente sua opinião sobre o tratamento dos pobres. Constatei que depois do texto “Recomendações aos médicos que exercem a Psicanálise”, só em“Luto e Melancolia” (1917), ele estabelece as relações entre a pobreza, o empobrecimento do eu e a melancolia. Nesse intervalo, ele concebeu os estudos “Sobre o narcisismo…” (1915), “O inconsciente” (1915), “A pulsão e suas vicissitudes” (1915), entre outros da metapsicologia, que definitivamente mudaram a interpretação freudiana acerca da pobreza.

No V Congresso Psicanalítico Internacional (1918), em Budapeste, Freud declarou seu interesse de que a psicanálise pudesse beneficiar toda a sociedade humana. Fala da sua preocupação com a grande quantidade de miséria neurótica que existe no mundo e que, talvez, não precisasse existir.

“As neuroses ameaçam a saúde pública não menos do que a
tuberculose, que, como esta, também não podem ser deixadas aos cuidados impotentes de membros individuais da comunidade” (1919,p. 210).
Para Freud essa solução viria através da responsabilização do Estado e da sociedade sobre a necessidade urgente de o pobre ter direito a uma assistência à sua mente tanto quanto tem direito a uma cirurgia. Ele sugere que esses atendimentos aconteçam em instituições ou clínicas de pacientes externos, para as quais serão designados analistas
preparados:

“ …de modo que homens que de outra forma cederiam a bebida,
mulheres que praticamente sucumbiriam ao seu fardo de privações,
crianças para as quais não existe escolha a não ser o embrutecimento
ou a neurose, possam se tornar capazes, pela análise, de resistência e
de trabalho eficiente” (Freud, 1919, p. 210).

E acrescenta que tais tratamentos seriam gratuitos. Freud acreditava na aceitação e na validade das hipóteses psicológicas também para as pessoas pouco instruídas e simultaneamente declarou sua preocupação com a formação dos analistas e com os desvios da técnica por falta de domínio da doutrina da psicanálise. Talvez fosse necessário adaptar a técnica às novas condições:

“..no entanto, qualquer que seja a forma que essa psicoterapia para o povo possa assumir, quaisquer que sejam os elementos dos quais se componha, o seu ingrediente mais efetivo e mais importante continuará a ser, certamente, aquele tomado à psicanálise estrita e não tendenciosa” (Freud, 1919, p. 210, grifo meu).

Em “Linhas de progresso na terapia analítica” (1919), Freud voltou a afirmar que estávamos diante de um tipo de neurose extremamente grave – a miséria social e psíquica. A partir de então, a psicanálise teria condições de ser aplicada aos pobres.
Entendemos que com a teoria das pulsões, ele modificou seu modo de pensar o processo de civilização. Passou a declarar a necessidade de expansão da psicanálise à população pobre e,
assim, traçou os indicadores da psicanálise aplicada à terapêutica. Em Freud, há uma relação direta entre o empobrecimento do eu e o empobrecimento econômico e social. Entendemos que a divisão do eu é constitucional e as consequências dessa divisão estão diretamente relacionadas com as condições individuais e sociais em que cada criança se organiza.

9.2 – As Primeira Iniciativas para levar a Psicanálise aos Pobres

Em 1920, Freud fez dois agradecimentos especiais aos analistas que tomaram a iniciativa de criar centros de atendimento em psicanálise para os pobres.

O primeiro foi uma homenagem póstuma ao Doutor Anton von Freund, que foi Secretário- Geral da Associação Psicanalítica Internacional desde o Congresso de Budapeste, em setembro de 1918. O seu falecimento em 20 de janeiro de 1920 interrompeu o trabalho de fundação do Instituto de Psicanálise em Budapeste, cuja finalidade seria o ensino e a prática da psicanálise em ambulatório.

O outro agradecimento foi dirigido ao amigo Max Eitingon, que criou a Policlínica Psicanalítica de Berlim, em março de 1920, atendendo os mais pobres. Esta Policlínica tornou-se uma instituição de formação de analistas. A exigência de formação foi considerada como fundamental e “encarada como a única proteção possível contra o dano causado aos pacientes por pessoas ignorantes e não qualificadas, sejam leigas ou médicas”
(1920-22, p. 358).

Vale destacar também, que Lacan herda a preocupação freudiana com a formação do analista com a capacidade do atendimento dos mais pobres e também expande a prática da psicanálise em hospitais, na França.

9.3 – O atendimento Psicanalítico no PSF

O Ministério da Saúde no Brasil criou, em 1994, o Programa Saúde da Família (PSF). Seu principal propósito: reorganizar a prática da atenção à saúde em novas bases e substituir o modelo tradicional, levando a saúde para mais perto da família.

A estratégia do PSF prioriza as ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde das pessoas, de forma integral e contínua. O atendimento é prestado na unidade básica de saúde do município ou no domicílio, pelos profissionais (médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde) que compõem as equipes de Saúde da Família. Assim, esses profissionais e a população acompanhada criam vínculos de co-responsabilidade, o que facilita a identificação e o atendimento aos problema de saúde da comunidade possibilitando melhor atenção.

Diante dos ótimos resultados já alcançados, o Ministério da Saúde está estimulando a ampliação do número de equipes de Saúde da Família no Brasil. E, para isso, é fundamental a mobilização das comunidades e dos prefeitos, pois só por intermédio deles as portas dos municípios se abrirão para a saúde entrar, abrindo aqui a oportunidade para a Psicanálise como ferramenta importante no tratamento da saúde mental de pessoas que não possuem condição financeira suficiente para manter uma sequencia de pagamentos.

9.4 – O perfil do Paciente do PSF e Instituições de Assistência Social

Homens e Mulheres, idade que vai de uma variante de 17 a 65 anos. São remunerados com salário base e a maioria trabalha, porém, muitos sem garantias trabalhistas.
Vivem num ambiente social hostil, convivem com a violência urbana e a violência domestica.
Muitos têm a dependência química como pratica normal sendo o alcoolismo a incidência maior dessa dependência. Pouquíssima formação escolar e cultural próximo de zero.

9.5 – O Paciente do PSF no Setting Psicanalítico

Para o desprovido da condição econômica, se tornar Paciente numa consulta com um Psicanalista é algo de uma importância extremamente valorizada.
São disciplinados, Não perdem Consulta, São dedicados ao tratamento e são agradecidos.
Neste contexto de tratamento dentro de um Posto de Saúde, o paciente se sente amplamente valorizado e demonstra forte desejo de cura.

 

10 . CONCLUSÃO

Os conteúdos reprimidos, os recalques, os complexos e de um modo geral, as Queixas do paciente psicanalítico denominado de menos favorecido ou ainda simplesmente
“Pobre”, é exatamente os mesmos de qualquer outro ser humano. E assim sendo, passivo de tratamento como qualquer outro de maior poder aquisitivo econômico.

Freud, Intransigente no inicio mais amplamente favorável posteriormente, defendeu a Psicanálise como tratamento para o pobre, que possui a mesma dor na alma sentida por todos aqueles que são afligidos nas suas mentes.

E a percepção dessa “dor na alma” do ser humano é que levou Freud a mergulhar na escuridão do abismo do Inconsciente para encontrar solução paras essas mazelas emocionais. Freud se interessa pela felicidade alheia e o bem estar das pessoas e busca mecanismos para ajuda-las a se ajudarem, encontrando uma forma de viver melhor. “A dor da
alma não permite o indivíduo ser feliz!” Carlos Geraldo (2013)

 

REFERENCIAS

FERREIRA, LENILSON, (2010) “Psicanálise: O que ela pode fazer por você”. Rio de
Janeiro: Sá Editora, 2010, p. 67-75
COELHO DOS SANTOS, T. (2008) “Uma leitura politicamente incorreta da subjetivdade do
brasileiro”, in: COELHO DOS SANTOS, T. e DECOURT, M. (Orgs.) A cabeça do
Brasileiro no divã. Rio de Janeiro: Ed. Sephora.
BLANCO, Manuel Fernádez. (2007) “Cidadão-sintoma”, in Latusa digital. Ano 4, no 29 –
julho de 2007. Disponível em www.latusa.com.br
BROUSSE, Marie-Héléne. (2007) “Três pontos de ancoragem”, in ASSOCIAÇÃO DO
CAMPO FREUDIANO. Pertinências da psicanálise aplicada: trabalhos da Escola da
Causa Freudiana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007, p. 22-26.
FONSECA, V.W. (2009) “Psicanálise aplicada à pobreza como sintoma”. Projeto de pesquisa
de doutoramento apresentado ao Programa de pós-graduação em teoria psicanalitica/IP/UFRJ.
FREUD, S. (1913) “Sobre o início do tratamento (Novas recomendações sobre a técnica da
psicanálise)”, in Edição Standard Brasileira das Obras Completas de S. Freud. Rio de
Janeiro: Imago, 1976, v. XII, p. 163-187.
FREUD, S. (1917) “Luto e melancolia”, in Edição Standard Brasileira das Obras
Completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v. XIV, p. 271–291.
FREUD, S. [1919 (1918)] “Linha de progresso na terapia psicanalítica”, in Edição Standard
Brasileira das Obras Completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v. XVII, p. 199-
211.
FREUD, S. (1919) “Introdução à psicanálise e às neuroses de guerra”, in Edição Standard
Brasileira das Obras Completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v. XVII p. 257-
263.
FREUD, S. (1920-22) “Prefácio ao relatório sobre a Policlínica Psicanalítica de Berlim
(março de 1920 a junho de 1922), de Marx Eitingon”, in Edição Standard Brasileira das
Obras Completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v. XIX , p. 357-358.
FREUD, S. (1920) “Breves Escritos – Doutor Anton Von Freund”, in Edição Standard
Brasileira das Obras Completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v. XVIII, p.
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LACAN, J. (1971) “Ata de Fundação da Escola Freudiana de Paris”, in Outros Escritos. Rio
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LAURENT, E. (2007) “Dois aspectos da torção entre sintoma e instituição”, in
ASSOCIAÇÃO DO CAMPO FREUDIANO. Pertinências da psicanálise aplicada:

24
trabalhos da Escola da Causa Freudiana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007, p.
238- 249.

Citacão: FONSECA, V.W.S. As indicações freudianas para a formação dos analistas e a
clínica com a população de baixa renda. Revista aSEPHallus, Rio de Janeiro, vol. VI, n. 11,
nov. 2010 / abr. 2011. Disponível em www.nucleosephora.com/asephallus

Esse trabalho foi produzido por Carlos Geraldo Ferreira, aluno formado no Curso Livre de Doutorado em Psicanálise da SIP-SP.

Carlos Geraldo Ferreira

| Psicanalista Clínico

| Neuropsicanalista

| Psicanálise Forense 

 

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