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Decifrando a Criança Por Meio dos Sonhos Infantis

Segundo Sigmund Freud, os sonhos infantis são breves, claros, coerentes, fáceis de entender e, sem ambigüidade; em outras palavras, são plenos de sentido e não-enigmáticos. Segundo ele, os sonhos são uma reação a uma experiência do dia precedente, a qual deixou atrás de si uma mágoa, um
anelo, um desejo que não foi satisfeito. E, para demonstrar isso, ele fez o registro dos seguintes exemplos de sonhos que colheu de criança:

Sonho 1
Um menininho de vinte e dois meses teve um sonho semelhante com uma regalia que lhe fora negada. Na véspera, fora obrigado a presentear seu tio com um cesto de cerejas frescas, das quais ele próprio, naturalmente, só pudera provar uma unidade. Acordou com esta alegre notícia: “Hermann comeu todas as cerejas!”

Sonho 2

Um menino de cinco anos e três meses deu sinais de insatisfação durante uma caminhada pelas imediações do Dachstein. Cada vez que se divisava uma nova montanha, ele queria saber se era o Dachstein, e por fim se recusou a visitar uma cachoeira com o resto do grupo. Seu comportamento foi atribuído à fadiga, mas encontrou uma explicação melhor quando, na manhã seguinte, ele contou ter sonhado que havia escalado o Dachstein. É evidente que tivera a ideia de que a excursão terminaria numa escalada do Dachstein e ficou deprimido ao ver que a montanha prometida nunca aparecia. Compensou, no sonho, aquilo que o dia anterior não lhe pudera dar.

Sonho 3
Uma menina de seis anos teve um sonho exatamente igual. Durante um passeio, seu pai teve de parar antes de se atingir o objetivo pretendido porque estava ficando tarde. No caminho de volta, ela reparou num poste de sinalização que indicava o nome de outro local de excursão e o pai prometeu levá-la lá também em outra oportunidade. Na manhã seguinte, ela recebeu o pai com a
notícia de que sonhara que ele estivera com ela em ambos os lugares.

Freud chama a atenção para o fato de que a maioria dos sonhos infantis são simples e indisfarçadas realizações de desejo. E, visam proporcionar uma satisfação direta e indisfarçada, desse desejo. Porém, Freud alerta para o fato de que não se deve supor que todos os sonhos de crianças sejam desse tipo.


A deformação onírica já inicia bem no início da infância, e têm sido relatados sonhos sonhados por crianças entre 5 e 8 anos que  possuem todas as características de sonhos de idade maior. Entretanto, se o analista se limitar à faixa etária entre o início da atividade mental observável e o quarto ou quinto ano, encontrará numerosos sonhos portadores das características que se podem
descrever como ‘infantis’, e alguns outros do mesmo tipo em anos posteriores da infância. Na verdade, sob certas condições, os próprios adultos têm sonhos que em muito se assemelham aos sonhos tipicamente infantis. Ele, prossegue fazendo a seguinte narração:

Eis aqui outro sonho infantil que, embora à primeira vista não seja
muito fácil e entender, também não passa de uma realização de desejo. Uma menininha de quatro anos incompletos fora trazida do campo para a cidade por estar sofrendo de uma crise de poliomielite. Passou a noite com uma tia que não tinha filhos e puseram-na para dormir numa cama grande — grande demais para ela, é claro. Na manhã seguinte, contou ter sonhado que a cama era pequena demais para ela, tão pequena que ela não cabia. É fácil reconhecer esse sonho como um sonho de desejo, se nos recordarmos que as crianças expressam com muita frequência o desejo de “serem grandes”. O tamanho da cama foi um lembrete desagradável da pequenez da menina ainda não crescida; assim, ela corrigiu a proporção indesejada no sonho e cresceu tanto que até a cama grande ficou pequena demais para ela.

Freud esclarece que nenhuma análise e nenhuma aplicação de qualquer técnica é necessária para compreender os sonhos infantis e, que não há necessidade de indagar a uma criança que nos conta seu sonho. Mas, que há que acrescentar ao sonho alguma parcela de informação proveniente de eventos da vida da criança, visto que, invariavelmente existe alguma vivência do dia anterior que nos explica o sonho. Porém, adverte, que se examinados mais detidamente, “reconheceremos, mesmo neles, uma pequena parcela de deformação onírica, determinando a diferença entre o conteúdo manifesto do sonho e os pensamentos oníricos latentes”. Ele esclarece, que:

O que origina um sonho é um desejo, e a satisfação deste desejo constitui o conteúdo do sonho — esta é uma das características principais dos sonhos. A outra, igualmente constante, é que um sonho não apenas confere expressão a um pensamento, mas também representa o desejo sendo satisfeito sob a forma de uma experiência alucinatória.

E, explica que nada que seja sem importância ou indiferente, ou que assim se afigure à criança, consegue penetrar no conteúdo de seus sonhos. E, diz que “é-nos plenamente lícito esperar que a explicação dos processos psíquicos das crianças, em que é bem possível que eles sejam muito
simplificados, venha a se revelar um prelúdio indispensável à investigação da psicologia dos adultos”.

Freud defende que sem o auxílio do sonho não poderíamos dormir. E, que é devido a isso que dormimos bem ou mal.

Este material sobre: Decifrando a criança por meios de sonhos infantis, foi escrito por Sara Santos, formada no nosso Curso Livre de Mestrado em psicanálise.

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